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ELEIÇÕES 2006 - ESTADOS
NORDESTE
Resultado expõe derrota de oligarquias
Grupos de Sarney no Maranhão, de ACM na Bahia e de João Alves em Sergipe cedem espaço a partidos considerados de esquerda
"O Nordeste vai virar um enclave de esquerda, seja lá o que você quiser chamar de esquerda", diz o cientista político Carlos Ranulfo Melo
DA REPORTAGEM LOCAL
A derrota de Roseana Sarney
no Maranhão completou o novo mapa político do Nordeste:
os governos de três grandes Estados trocaram de mãos pela
primeira vez em pelo menos 16
anos. No primeiro turno, o carlismo já havia perdido na Bahia
e, no Ceará, a eleição marcou o
fim do protagonismo de Tasso
Jereissati (PSDB) no Estado.
A derrota das mais emblemáticas oligarquias nordestinas
(principalmente no Maranhão
e na Bahia) ocorre simultaneamente a um avanço das esquerdas na região. Na Bahia, ganhou
Jaques Wagner (PT); no Maranhão, Jackson Lago (PDT); no
Ceará, Cid Gomes (PSB). Some-se Pernambuco, com
Eduardo Campos (PSB), e Sergipe, com Marcelo Déda (PT).
"Aquele Nordeste ali vai virar
um enclave de esquerda, seja lá
o que você quiser chamar de esquerda", diz o cientista político
Carlos Ranulfo Melo, da
UFMG. Mas a explicação do
avanço das esquerdas não decreta a morte dos grupos políticos tradicionais nem admite
resposta única. Reflete, em
combinações e doses diferentes em cada caso, fatores como:
1) o esgotamento dos projetos oligárquicos em si e problemas sucessórios nos clãs; 2) o
sucesso do governo Lula na região, que turbinou oposições
até então sem fôlego eleitoral;
3) o impacto das políticas sociais federais e seu formato de
distribuição, que limita a ingerência política local e estadual e
dá margem maior à movimentação política dos prefeitos.
O caso dos Sarney no Maranhão, a primeira derrota da família em 40 anos, exemplifica:
Roseana teve a oposição do
atual governador, um ex-aliado
do clã. Mesmo tendo Lula como
cabo eleitoral, perdeu.
Para Francisco Araújo, professor da Universidade Estadual do Maranhão e autor da
tese "Mandonismo e cultura
política pós-1985", o sarneísmo
já dava "sinais de caduquice
porque se tornou velho, esgotado enquanto projeto. Depois de
40 anos de controle político, já
demonstrou que não tem capacidade e compromisso para resolver os graves problemas do
Maranhão, mas isso não significa que já esteja em seu ocaso".
O caso baiano, porém, evidenciou a força de Lula no Estado. É que, até então, explica o
professor titular da Faculdade
de Comunicação da UFBA, Albino Rubim, a oposição na Bahia havia se revelado incapaz de
formular "projetos alternativos
de poder e governo na Bahia".
Ministro de Lula e apoiado
na aprovação dos programas
sociais federais no Estado, Jaques Wagner conseguiu decolar. Vale dizer que a Bahia é um
dos poucos Estados onde o carro-chefe da campanha nacional, o Bolsa Família, tem potencialmente ainda mais impacto.
É que parte das famílias beneficiárias no Estado já está integrada em ações como a "tarifa
social de energia", que faz cair
até 80% do valor da conta.
No Ceará, governado pelo
grupo de Tasso Jereissati desde
1987, o senador conseguiu forjar uma saída de cena sem rupturas. O tassismo já acumulava
derrotas na capital, rejeição
que começava a se irradiar para
a região metropolitana.
No meio do caminho, Tasso
viu o discípulo Ciro Gomes virar aliado de primeira hora de
Lula, desde 2002, e a vitória petista na Prefeitura de Fortaleza,
em 2004. A decisão então foi
abandonar o candidato tucano
Lúcio Alcântara à própria sorte
e apoiar tacitamente Cid Gomes, irmão do ministro, o nome do ciro-petismo no Ceará
-sai o PSDB do governo, mas o
senador vai disputar espaço de
influência no governo.
Crise do PFL
O encolhimento das oligarquias marca, no novo mapa
nordestino, o desaparecimento
do PFL dos governos estaduais.
"O PFL está em apuros. Perdeu
sua base e vai entrar em crise",
diz Carlos Ranulfo. Ele já projeta influência do novo quadro na
sucessão de 2010.
O cientista político carioca
Renato Lessa concorda com a
crise, mas pondera: "Não se assina atestado de óbito de gente
como Antonio Carlos Magalhães. Mas é inegável que não
existia, para o PFL, lugar pior
para perder que a Bahia".
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