São Paulo, quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

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ECONOMIA

Tsunami no PIB; no consumo, só marolinha

VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

A marolinha de Lula é um caso de 2008. Foi num sábado do início de outubro que o presidente troçou do risco de crise, num comício em que pedia votos para Luiz Marinho (PT), que venceria a Prefeitura de São Bernardo.
"Ela [crise] é lá [EUA] um tsunami e aqui vai chegar uma marolinha, que não vai dar nem para esquiar", disse Lula, que seria criticado pelo ufanismo alienado. Quem estava certo sobre os efeitos da crise no Brasil? Ninguém.
Lula não tinha como prever se o colapso financeiro que começou nos Estados Unidos se transformaria em depressão econômica mundial, tragando também o Brasil. Os críticos menosprezavam o poder de reação dos governos de EUA, China e Europa e também do Brasil.
Mas a queda do PIB no Brasil foi violenta, maior que nos EUA, muito maior que na China e equivalente à de Reino Unido e Alemanha. Nos quatro trimestres que se encerraram em setembro de 2008, o Brasil havia crescido 6,6%. Um ano depois, em setembro de 2009, a economia teria encolhido 1%.
Mas a freada quase não foi sentida assim pela população, inédito nas recessões brasileiras. O consumo aumentou, o desemprego foi muito menor que o previsto. Quem mais apanhou foram as empresas exportadoras e o investimento na produção. Por que foi assim?
Porque o Brasil tinha dinheiro em caixa, dólares bastantes para mostrar ao mercado mundial que teria condições de pagar suas contas. A economia estava mais arrumada: foi possível tomar medidas anticrise. Também importante, o consumo foi incrementado por aumentos do salário mínimo e de transferências do governo. Aumentou a parcela da renda das pessoas, as mais pobres em especial, que não vem do trabalho, mas de benefícios sociais. Enfim, quando o governo viu a ameaça de tsunami, tomou medidas preventivas. Subsidiou o consumo, fez os bancos estatais emprestarem mais, baixou impostos, baixou juros etc.
Mas a economia do Brasil é pequena demais para resistir sozinha a uma crise como a de 2008-09. O país se beneficiou também de medidas de governos de países ricos e, novamente, do crescimento chinês.
O governo dos EUA ora faz a maior dívida de sua história a fim de evitar uma crise parecida com a dos anos 1930; a Europa Ocidental fez coisa parecida, mas em escala menor. EUA e Europa baixaram os juros quase a zero, o que ajudou a atenuar a falta de crédito que ameaçava asfixiar o Brasil. Na China, que temia crescer "apenas" 6%, o governo liberou muito crédito e fez um pacote de investimentos no valor de um terço da economia brasileira. A China vai crescer mais de 8% este ano. Se a China cresce, os produtos de exportação brasileiros ganham valor.
Saiu de graça para nós, a crise? Não. O desemprego não explodiu, mas centenas de milhares deixaram de conseguir um trabalho. O nível de investimento caiu muito, o que reduz um pouco o potencial de crescimento dos próximos anos. O governo gastou demais, aproveitando a história da crise para fazer agrados políticos. Essas contas terão de ser pagas nos próximos anos.


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