São Paulo, quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

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Quem deu as caras

Um barbudo que assusta o planeta, um caubói na Casa Branca, um torneiro mecânico no mundo. E teve até bruxo em Hollywood...

LULA
PRESIDENTE DO BRASIL

Por Eliane Cantanhêde
Colunista da Folha

O migrante nordestino, metalúrgico e sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva é reconhecidamente um dos homens mais importantes da primeira década deste século, não apenas no Brasil, mas no mundo.
A história registrará que, durante o seu governo, o Brasil pulou vários degraus em importância internacional, ganhou em pujança econômica e recuperou a autoestima.
Mas, retrospectivamente, sem o calor do momento e o peso do marketing, a história tenderá a reequilibrar de forma mais justa a importância de Lula e seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.
Hoje, Lula é quase um Deus, enquanto FHC é tratado como um quase fiasco. A balança ficará mais bem ajustada quando recuperada a realidade de que os dois governos fazem parte de um único processo.
Há relação de causa e efeito nesse ciclo, que começa com a estabilidade da economia e desemboca na inclusão de 27 milhões de brasileiros.
Com seu imenso carisma, sua vibrante biografia e sua decantada capacidade de comunicação com pobres e ricos, letrados ou não, Lula transformou os êxitos de FHC em herança maldita e potencializou os seus próprios acertos.
Valeu-se de intuição e inteligência, mas também da avalanche de dinheiro que favoreceu não só o Brasil e a sua popularidade, mas outros países e governantes da América Latina.
É como se fizesse o governo de FHC, mas com dinheiro e um olhar mais focado no social. Seu grande programa de chegada, o Fome Zero, não existia. Mas aproveitou a estabilidade da economia, o Bolsa Família, o sistema bancário e deu saltos de qualidade.
Multiplicou os recursos para as famílias de baixa renda e ampliou o crédito das classes médias baixas, sem mexer um milímetro nos ganhos de capital. Nunca os bancos lucraram tanto, mas a carga tributária é considerada a 14ª mais alta do mundo. Ou seja: redistribuiu renda, mas não do capital para o trabalho.
Lula também acobertou o aparelhamento do Estado, principalmente das estatais, sob impulso mais de líder sindicalista do que de estadista.
E o ponto baixo dos seus oito anos se equipara no plano interno e externo: o descaso com as questões de princípio. Ele tinha gordura para gastar, mas não quis usar sua imensa popularidade para investir em ética, bandeira antes tão cara ao PT.
Fechou os olhos para escândalos como o mensalão.
Garantiu sobrevida a oligarquias que mantêm Estados em condições medievais. Compôs alegremente com o que há de pior na política. Foi indulgente com governador que usa dinheiro público para ir de jatinho passar Carnaval na Europa com a sogra.
No plano externo, ironizou a resistência às ditaduras do Irã e de Cuba, cometendo gafes imperdoáveis para qualquer outro, mas assimiláveis quando se trata de Lula.
Lula entra para a história como um dos mais importantes presidentes do Brasil e um dos líderes mais amados no mundo. Fora do poder, uma avaliação mais fria, menos emocional, poderá mostrá-lo grande líder, mas igualmente um mito que cai na real.


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