São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2008

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O BEM DO CONHECIMENTO

Pólo do ensino superior, região concentra classes A e B

Zona oeste tem o maior percentual de SP de pessoas com superior completo; distritos mais pobres têm menor escolaridade

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Estudante caminha em prédio da USP na Cidade Universitária


LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Aquilo ali era um brejão imenso. A gente andava e era o tempo todo aquele chóp-chóp-chóp, o barulho do sapato grudando e desgrudando da lama." A lembrança é do jardineiro aposentado Antenor Pieroni, 85, referindo-se ao terreno da Fazenda Butantan onde, a partir de 1941, começou a ser construído o campus da Universidade de São Paulo, a mais importante instituição de ensino superior do país, responsável pela maior parte da produção técnica e científica nacional.
Hoje, a zona oeste, que inclui, entre outros, os bairros do Butantã, Lapa, Pinheiros, Perdizes, Morumbi e Itaim Bibi, abriga um total de 53 campi de várias faculdades, o que faz dessa região a detentora da maior concentração de vagas no ensino superior na cidade. A pesquisa Datafolha capturou a conseqüência disso: a zona oeste é a região da cidade com maior densidade de habitantes que concluíram uma faculdade -38% dos moradores, contra a média de 15% do município.
O ciclo virtuoso para o mercado educacional, entretanto, é contrastado pelos bolsões de miséria da região, as localidades pobres à margem da rodovia Raposo Tavares e o Rio Pequeno, onde segundo a Subprefeitura do Butantã, responsável pela região, existe 82 favelas, ou cerca de 160 mil pessoas vivendo em submoradias.
É a parcela pobre da zona oeste a clientela preferencial das 39 escolas públicas de nível médio da região, todas elas "reprovadas" no Exame Nacional do Ensino Médio promovido pelo MEC para avaliar a qualidade da educação.
No extremo oposto, a mesma zona oeste é o endereço vistoso de 124 escolas particulares também de nível médio, 6 das quais estão entre as 10 melhores da cidade de São Paulo.

Ensino superior
No ensino superior a realidade é outra. Segundo o diretor-executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Escolas de Ensino Superior do Estado de São Paulo, Rodrigo Capelato, 37, os empresários do ensino investem na zona oeste por ser "uma região com alta concentração de público das classes A e B, que pode pagar os R$ 700 médios cobrados como mensalidade. O diferencial competitivo, quando se lida com uma clientela como essa, passa a ser a qualidade."
Segundo a pesquisa Datafolha, a região tem 14% dos moradores na classe A e 44,7% na classe B, os maiores índices na média da cidade.
Além disso, diz Capelato, a área tem grande concentração de famílias com "boa formação educacional". "E é sabido que essas famílias exigem de seus filhos que tenham, no mínimo, o curso superior."
Some-se a proximidade de estações de metrô e trem, extensa malha de linhas de ônibus municipais e intermunicipais, a tradição universitária da região -legado da USP e da Pontifícia Universidade Católica (PUC), que fica no bairro de Perdizes- se tem os fatores que levam à rotina de inaugurações de campi universitários na região.
As faculdades Cruzeiro do Sul e São Judas Tadeu, com mestrados reconhecidos pela Capes -Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-, por exemplo, inauguraram há meses seus novos campi na zona oeste.
Segundo Mariana Hungria, ouvidora da Unifieo, tradicional faculdade privada da região metropolitana, a maioria de seus 13 mil alunos são "autóctones", provêm da vizinhança, que ela define como "uma região com grande concentração de escolas de ensino fundamental e médio de alta qualidade, cujos egressos certamente buscarão o ensino superior."


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