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COMO FICOU - COMPRA DO VOTO
Todos os envolvidos na denúncia de compra de voto são inocentados
Governo e Congresso evitam investigar
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
O caso da compra de votos a favor da
emenda da reeleição terminou sem que
ninguém fosse punido. Hoje, não há investigação em curso. As autoridades que
poderiam descobrir alguma coisa deram
o assunto por encerrado.
O caso se refere à aprovação da emenda
constitucional que permitiu ao presidente
da República, a governadores de Estado e
a prefeitos disputar mais um mandato
permanecendo no cargo.
A emenda foi votada em 28 de janeiro
do ano passado pela Câmara. O governo
venceu a votação. Cerca de cem deputados que se diziam indecisos acabaram tomando posição a favor da reeleição apenas no dia da votação.
Em 13 de maio de 97, a Folha começou a
publicar a série de reportagens "Mercado
do Voto". Dois deputados federais do PFL
do Acre, Ronivon Santiago e João Maia,
contavam em conversas gravadas que tinham recebido R$ 200 mil, em dinheiro,
para votar a favor da emenda da reeleição.
Os diálogos de Ronivon e Maia foram
gravados por uma pessoa que conversou
com eles, mas não quis se identificar. A
Folha respeitou esse desejo da fonte, que
foi citada na reportagem apenas como
"Senhor X".
Ronivon e Maia citavam como mandantes da operação dois governadores de Estado, ambos do PFL: Orleir Cameli (AC) e
Amazonino Mendes (AM). Além disso,
diziam que o dinheiro seria proveniente
de uma "cota federal", que teria ligação
com o então ministro das Comunicações,
Sérgio Motta, morto em abril deste ano.
Segundo os diálogos gravados de Ronivon e Maia, pelo menos outros três deputados federais teriam recebido R$ 200 mil
para votar a favor da emenda da reeleição:
Chicão Brígido (PMDB-AC), Osmir Lima
(PFL-AC) e Zila Bezerra (PFL-AC). Os
três negam o envolvimento.
Em maio de 97, a Folha enviou cópia
das fitas com as falas do "Senhor X" suprimidas. A pedido da Comissão de Sindicância, peritos da Unicamp (Universidade de Campinas) analisaram as fitas cedidas pela Folha e confirmam a autenticidade das gravações.
A Folha não divulgou as fitas na íntegra
para preservar o sigilo da fonte, um direito constitucional assegurado aos jornalistas.
A única consequência prática das reportagens sobre a compra de votos foi a renúncia dos deputados Ronivon e Maia.
Tomaram essa decisão sem explicar a motivação do ato, pois ambos se diziam inocentes. Desde então, se recusam a esclarecer o caso.
Com a renúncia aos seus mandatos, Ronivon e Maia escaparam de uma punição
formal da Câmara. Se fossem cassados,
perderiam os direitos políticos e poderiam ser processados como qualquer outro cidadão.
Sem investigação
Os outros envolvidos não foram investigados. Sob o comando do Palácio do Planalto, deputados governistas brecaram a
instalação de uma Comissão Parlamentar
de Inquérito. A discussão do assunto ficou circunscrita apenas à CCJ (Comissão
de Constituição e Justiça) da Câmara.
A CCJ não tem poderes de polícia. Não
pode exigir que pessoas compareçam para depor. Quando alguém aceita depor,
não o faz sob juramento. A CCJ também
não pode quebrar o sigilo bancário e telefônico das pessoas acusadas.
Todos os envolvidos acabaram depondo na CCJ. Mas todos negaram culpa. Os
governadores do Acre e do Amazonas e o
ministro das Comunicações não foram
nem sequer acusados formalmente. Os
três deputados citados por Ronivon e
Maia foram absolvidos por falta de provas.
Mais de um ano depois de o caso ter se
tornado público, o plenário da Câmara
ratificou a decisão da CCJ. Em 2 de junho
passado, Chicão, Osmir e Zila foram definitivamente absolvidos. O processo foi
encerrado.
Outra possibilidade de investigação teria sido por meio da Polícia Federal ou da
Procuradoria Geral da República, pois o
possível crime tinha implicações federais.
A PF nunca entrou no caso. A Procuradoria Geral da República recebeu, pelo
menos, cinco pedidos de investigação.
Entre os requerentes estavam parlamentares e OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil). Nada prosperou.
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