São Paulo, quinta, 31 de dezembro de 1998

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Nenhuma das denúncias de superfaturamento foi comprovada
Absolvido, Alceni retorna à vida política

do enviado especial a Pato Branco (PR)

Em um sábado de fevereiro de 91, o então presidente Fernando Collor convidou seu ministro da Saúde, Alceni Guerra, para almoçar na Casa da Dinda (sua casa particular em Brasília, transformada em residência oficial da Presidência). O ministro foi recebido na biblioteca. Collor queria comemorar a aprovação, três dias antes, do Orçamento Geral da União, que garantia ao governo US$ 4,5 bilhões para construir Ciacs (Centros Integrados de Atendimento à Criança e ao Adolescente) em todo o país.
Segundo Alceni, seguiu-se um diálogo que o marcaria para sempre. "Esqueça o sotaque paranaense, aproxime-se da igreja e do Exército e comece a receber muitos deputados em seu gabinete. Esse programa dos Ciacs vai mudar o governo e a sua vida. Ele elegerá o meu sucessor", disse Collor. Alceni saiu certo de que seria o candidato de Collor à Presidência na sucessão. Em 23 de janeiro de 92, ele deixava o governo com a má-fama de corrupto.
Era acusado de comprar 23.500 bicicletas, mochilas e guarda-chuvas por preços acima dos de mercado. A essas denúncias de superfaturamento seguiram-se outras, de compra de seringas, vacinas, filtros e medicamentos mais caros do que os normalmente cobrados pelos fornecedores a hospitais e clientes particulares. Nenhuma denúncia foi provada. Nenhum documento que o incriminasse foi descoberto.
O Ministério Público não formalizou nenhuma denúncia contra ele, pedindo o arquivamento do inquérito que vasculhou sua vida bancária e seus atos como ministro. Em dezembro de 92, o STF (Supremo Tribunal Federal) levou seu processo a julgamento, isentando-o de todas as acusações e absolvendo-o por unanimidade.
Hoje, Alceni é prefeito de Pato Branco, no Paraná, cidade de 60 mil habitantes. Elegeu-se em 96 com 74% dos votos. É do PFL, mas tem secretários do PMDB, do PDT e um petista na presidência do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano da cidade.
Daquela época, guarda dois momentos -os piores de sua vida. O primeiro envolve seu filho Guilherme, na época com 12 anos, que foi tratado como um infrator em charge de um jornal. O outro ocorreu em uma festa na escola de sua filha Ana, então com 4 anos. Por ocasião do Dia dos Pais, crianças carregavam cartazes escritos por professores. No de Ana lia-se: "Bicicletas. Mochilas. Guarda-chuvas. Seringas. Vendo tudo acima do preço".
"Não quero passar o resto da vida remoendo angústias, mas construindo novos sonhos para pôr em prática dentro do jogo normal da política", afirma Alceni.



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