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Nenhuma das denúncias de superfaturamento foi comprovada
Absolvido, Alceni retorna à vida política
do enviado especial a Pato Branco (PR)
Em um sábado de fevereiro de 91, o então presidente Fernando Collor convidou
seu ministro da Saúde, Alceni Guerra, para almoçar na Casa da Dinda (sua casa
particular em Brasília, transformada em
residência oficial da Presidência). O ministro foi recebido na biblioteca. Collor
queria comemorar a aprovação, três dias
antes, do Orçamento Geral da União, que
garantia ao governo US$ 4,5 bilhões
para construir
Ciacs (Centros Integrados de Atendimento à Criança
e ao Adolescente)
em todo o país.
Segundo Alceni,
seguiu-se um diálogo que o marcaria para sempre.
"Esqueça o sotaque paranaense,
aproxime-se da
igreja e do Exército e comece a receber muitos deputados em seu gabinete. Esse programa dos Ciacs vai
mudar o governo e
a sua vida. Ele elegerá o meu sucessor", disse Collor. Alceni
saiu certo de que seria o candidato de Collor à Presidência na sucessão. Em 23 de
janeiro de 92, ele deixava o governo com a
má-fama de corrupto.
Era acusado de comprar 23.500 bicicletas, mochilas e guarda-chuvas por preços
acima dos de mercado. A essas denúncias
de superfaturamento seguiram-se outras,
de compra de seringas, vacinas, filtros e
medicamentos mais caros do que os normalmente cobrados pelos fornecedores a hospitais e
clientes particulares. Nenhuma denúncia foi provada. Nenhum documento que o incriminasse foi descoberto.
O Ministério Público não formalizou nenhuma denúncia contra ele,
pedindo o arquivamento do inquérito que vasculhou sua vida bancária e seus atos
como ministro.
Em dezembro de
92, o STF (Supremo Tribunal Federal) levou seu processo a julgamento,
isentando-o de todas as acusações e
absolvendo-o por
unanimidade.
Hoje, Alceni é
prefeito de Pato
Branco, no Paraná,
cidade de 60 mil habitantes. Elegeu-se
em 96 com 74% dos
votos. É do PFL,
mas tem secretários
do PMDB, do PDT e
um petista na presidência do Instituto
de Pesquisa e Planejamento Urbano da
cidade.
Daquela época,
guarda dois momentos -os piores
de sua vida. O primeiro envolve seu
filho Guilherme, na
época com 12 anos,
que foi tratado como um infrator em charge de um jornal.
O outro ocorreu em uma festa na escola
de sua filha Ana, então com 4 anos. Por
ocasião do Dia dos Pais, crianças carregavam cartazes escritos por professores. No
de Ana lia-se: "Bicicletas. Mochilas. Guarda-chuvas. Seringas. Vendo tudo acima
do preço".
"Não quero passar o resto da vida remoendo angústias, mas construindo novos sonhos para pôr em prática dentro do
jogo normal da política", afirma Alceni.
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