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Ackel é inocente no caso das turmalinas
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
Foi na manhã de 29 de março de 1985. A
alfândega do aeroporto de Miami apreendeu um carregamento de águas-marinhas, esmeraldas, topázios e turmalinas.
O portador das pedras, Mark Lewis
-cidadão norte-americano, na época
morador em Anápolis (GO)- não conseguiu documentar ser dono do carregamento. Foi o estopim do chamado "escândalo do contrabando de pedras preciosas", em que
o ex-ministro da
Justiça Ibrahim
Abi-Ackel
(1980-85) teve
seu nome envolvido, sem que
sua participação
seja objeto de
qualquer evidência.
Ainda corre
hoje na Câmara
pedido para
abertura de processo contra o
ex-ministro por
peculato, por
conta de acusação contra seu
filho, Paulinho.
O filho teria
mantido escritório de advocacia em que
protelava extradições ou obtinha vistos
de residente para estrangeiros que dependiam do arbítrio do gabinete de seu pai.
"Eu fui o bode expiatório. Não era militar e também não tinha mandato", disse à
Folha o hoje deputado Abi-Ackel (PPB-MG). Sua suposta ligação com as pedras
apreendidas é das mais tortuosas.
Lewis era apenas uma "mula" (portador). As pedras pertenciam em verdade a
Antonio Carlos Calvares, dono da Embraima (Empresa Brasileira de Mineração, Importação e
Exportação), em
Goiânia.
Calvares procurou
o ex-ministro, que
voltara a advogar.
Pediu que ele intercedesse em sua defesa. Deu-lhe uma
procuração, que foi
apresentada por um
advogado norte-americano, Charles
Hayes, como prova
de que Calvares e
Abi-Ackel eram sócios no contrabando. Hayes disse isso
em entrevista no
"Jornal Nacional",
da Rede Globo. A
Folha apurou que na
época eram tensas as relações entre a Globo e Abi-Ackel. Hoje, o ex-ministro prefere não falar sobre essa dimensão do assunto. A Folha procurou Hayes, mas não
há pistas dele.
Outro personagem-chave na história foi
um delegado da Polícia Federal, Mário
Machado Filho, que instruiu o inquérito
em Goiânia. Ele se aposentou e hoje mora
em Aracaju (SE). Disse à Folha ter tido a
impressão de que Calvares, para se dar
ares de importância, simulou um grau de
familiaridade com o ministro que nunca
possuiu. Um caso de mitomania.
Foi essa uma das conclusões que o delegado remeteu à sede da PF, em Brasília. O
inquérito foi arquivado. Sem inquérito,
não houve tampouco motivo para processo judicial.
Calvares destacou para falar com a Folha um dos executivos da Embraima que
se apresentou como seu sobrinho. Para
este, o caso já rendeu para a família "US$
150 milhões" em indenizações por difamação, pagas por jornais norte-americanos.
No plano judicial, o que houve de concreto foi um "grand jury" em novembro
de 1986 em Lexinton, Estado de Kentucky, para apurar responsabilidades de
norte-americanos e estrangeiros no contrabando de pedras brasileiras.
Abi-Ackel não foi em nenhum momento citado por dar cobertura ou como responsável direto pelo tráfico.
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