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Copa cor de rosa

Justificativa de Kassab para investir no Itaquerão, estudo de consultoria exagera impacto econômico da abertura da Copa em SP e usa dado questionado

MARTÍN FERNANDEZ
RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO

Utilizado como referência pela Prefeitura de São Paulo, o principal estudo de efeitos da abertura da Copa-2014 usa dados não confiáveis e superestima o impacto econômico do evento na cidade.

O documento foi uma das justificativas do prefeito Gilberto Kassab (PSD) para investir R$ 420 milhões no estádio do Corinthians. A análise é da Accenture, empresa de consultoria, feito a pedido da Odebrecht, construtora que ergue o Itaquerão.

"Estudos realizados por especialistas mostram que (...) esse jogo de abertura (...) será responsável por uma receita aproximadamente de R$ 1,5 bilhão para a cidade de São Paulo", discursou Kassab, ao assinar o incentivo fiscal para o estádio em julho.

O documento da Accenture mostra renda de R$ 1,7 bilhão com a abertura. A maior parte (R$ 1,2 bilhão) viria de 190 mil turistas estrangeiros.

Baseia-se no Ministério do Esporte, que prevê gasto médio de R$ 6.500 por estadia de um estrangeiro. Hoje, essa despesa é de R$ 2.000, diz o Ministério do Turismo.

Os números do Esporte vem de outra consultoria, Value Partners, contratada para medir o impacto econômico da Copa. A qualidade do estudo é questionado pelo Tribunal de Contas da União.

No processo, o tribunal alega que foram "alocadas horas excessivas de consultores" para só repetir informações de órgãos do governo.

A análise econômica da Accenture foi feita em cima dos números do ministério, inclusive a expectativa de turistas.

"Consultorias costumam superestimar [turistas]", diz o alemão Holger Preuss, economista da Universidade de Mainz, que mostrou ter sido exagerada a estimativa de turistas na Copa de 2006.

A análise da Accenture ainda mostra que a abertura da Copa e o estádio terão "impacto econômico induzido" de R$ 30,6 bilhões em São Paulo, de 2011 a 2020.

Isso significa multiplicar por dez o investimento direto na Copa, de R$ 3,2 bilhões.

"É um número bem alto", analisou o economista norte-americano Robert Baade, da Universidade de Lake Forest, que estuda há 25 anos a economia de eventos esportivos.

Seu trabalho, baseado em exemplos dos EUA, mostra ser possível no máximo duplicar investimentos. "Quando se verificam os ganhos, sobra 10% do estimado."

A consultoria Ernst & Young fez estudo sobre a Copa-2014 no país. Previu que o impacto quintuplicará o investimento direto até 2014.

"Os EUA já têm infraestrutura. Qual o efeito dominó? O Brasil está em atraso então pode chegar a um mínimo de 5 vezes", contou o diretor-executivo Marcos Nicolas.

Na análise da Accenture, há ainda projeção de ganhos com impostos para a prefeitura e o governo paulista.

Oficialmente, o Estado não comentou. Mas a Folha apurou que o governo de SP só espera ter como estimar ganhos em 2012 e desconhece de onde saíram os números.

À prefeitura a consultoria espera ganho de R$ 325 milhões só com "IPTU valorização". Mas a própria Accenture admite não poder calcular a valorização imobiliária.

O estudo diz que "análise preliminar confirma que os impactos na arrecadação para o Estado e o Município são positivos 'vis a vis' o investimento (...) para a abertura da Copa no Novo Estádio".

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