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Cidade não olímpica

Em pleno ciclo dos Jogos de 2016, Rio vive êxodo de atletas com o fim de modalidades nos clubes e falta de locais de treino

FÁBIO SEIXAS DO RIO

Sem ginásio, Diego Hypólito trocou o Rio por São Paulo. Sem velódromo, dez ciclistas da principal equipe do país deixaram a cidade. Sem estádio de atletismo, uma velocista olímpica carioca negocia com Campinas. Sem piscina, medalhistas do Pan que treinavam no Rio estão no paulistano Sesi. Sem apoio, Natália Falavigna, do taekwondo, voltou ao Paraná.

No início do mais importante ciclo olímpico da história do país, a pouco mais de três anos de receber os Jogos, a cidade-sede vive um movimento que vai contra a lógica, as expectativas e os discursos oficiais. De êxodo.

São dois os motivos, que em alguns casos se misturam. O primeiro é pragmático: falta de locais para treinos. O segundo é financeiro, potencializado com o fim de programas de esportes olímpicos dos grandes clubes e com o término do Time Rio, parceria da prefeitura com o Comitê Olímpico Brasileiro.

"O Rio não tem mais ginásios com equipamentos para a ginástica. O Flamengo acabou, o Maracanã fechou... Por isso tenho treinado no Clube Pinheiros", diz Diego, 26, bicampeão mundial do solo.

Ele foi um dos afetados pelo pelo fim da equipe de ginástica do Flamengo, no mês passado. No mesmo pacote, o clube enterrou o judô.

Antes, já tinha acabado com a natação, a exemplo do que fizeram Vasco e Fluminense -neste caso, Kaio Márcio, ouro no Mundial de piscina curta de 2006, teve de voltar para João Pessoa.

O Maracanã também virou história. As obras de reforma acabaram com o estádio de atletismo Célio de Barros, o Parque Aquático Julio Delamare e com instalações usadas por esportes como ginástica e lutas marciais.

"Essa coisa de cidade olímpica é uma piada", declara Claudio Santos, presidente da Federação de Ciclismo do Rio. "É apenas um discurso bonito do prefeito. A verdade é que as modalidades estão sendo expulsas da cidade."

O ciclismo de pista já foi. Construído para o Pan de 2007, com custo de R$ 14 milhões, o velódromo foi fechado em fevereiro e será demolido por não atender às exigências para a Olimpíada.

O novo velódromo, orçado em R$ 80 milhões, só deve ficar pronto em 2015. Até lá, ciclistas, patinadores e ginastas -que também treinavam no local- ficarão sem teto.

Um golpe na LiveWright, a principal equipe de pista do país: dez dos 14 atletas que moravam num alojamento em Jacarepaguá deixaram a cidade nos últimos meses.

"Voltei para minha cidade. Ainda represento o Rio, mas morando agora em Americana [interior de SP]. Foi uma pena porque eu tinha ido para ficar e porque o velódromo daqui não tem padrão olímpico, não é coberto, não tem condições de receber uma competição internacional", conta Caio Moretto Buoni, 20, recordista brasileiro do quilômetro contra o relógio.

Medalhistas no Pan de Guadalajara, há dois anos, as nadadoras Daynara de Paula, Etiene Medeiros e Jéssica Bruin, que moravam no Rio, foram contratadas pelo Sesi, de São Paulo, em janeiro.

No atletismo, que ainda sofre com a interdição do Engenhão por tempo indeterminado, pelo menos uma velocista que esteve nos Jogos de Londres e pediu que não fosse identificada já negocia com uma equipe de Campinas porque não há investimento.

Já nos saltos ornamentais, que perdeu o Julio Delamare e o Maria Lenk (sem "tanque seco" para treino), a técnica Ana Paula Shalders teme algo mais grave que o êxodo de atletas: a desistência.

"A enorme maioria é totalmente amadora, é estudante. Sem lugar para treinar, não tem como mudar para outra cidade, não têm opção: vão acabar deixando o esporte."

Um cenário que, para boa parte dos atletas, faz soar irônico e melancólico o slogan dos Jogos Olímpicos do Rio: "Viva sua Paixão".


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