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Entrevista Felipe Massa

Se essa situação acontecer de novo, vou ser profissional

FELIPE MASSA, 30, ADMITE QUE VOLTARIA A ABRIR PASSAGEM PARA ALONSO ULTRAPASSÁ-LO SE O PEDIDO DA FERRARI SE REPETISSE NO GP BRASIL

TATIANA CUNHA
DE SÃO PAULO

É em Interlagos, cenário de seus momentos mais marcantes na F-1, que Felipe Massa, 30, tenta neste fim de semana um bom resultado para minimizar sua pior temporada desde 2006, quando se tornou titular da Ferrari.

No domingo, ele completa cem GPs pela escuderia.

Sem vencer uma corrida desde o GP Brasil de 2008, Massa pode completar o ano sem ter ao menos subido ao pódio, algo que não ocorreu nem em 2009, quando sofreu grave acidente na Hungria e perdeu metade do Mundial.

Mas, apesar do desejo de, diante de sua torcida, tentar se redimir da temporada apenas razoável que teve, Massa não descartou, em entrevista à Folha, a possibilidade de, diante de uma ordem da Ferrari, abrir mão de uma eventual vitória para favorecer seu companheiro de equipe, Fernando Alonso, como ocorreu no GP da Alemanha em 2010.

"Se uma situação como essa acontecer, vou continuar sendo profissional", afirmou ontem em Interlagos.

Folha - Você se vê na F-1 por muito mais tempo?

Felipe Massa - Não. Entre 35 e 37 anos seria meu limite.

Você já organiza alguns campeonatos no Brasil. Esta seria um opção para quando parar?

Gosto disso e acho que tenho muito a ajudar. Temos uma escola de pilotos [a Fórmula Futuro], o Troféu Linea e duas categorias de moto, além da corrida de kart que eu organizo no fim do ano.

Você falou que não achava certo o Rubens Barrichello pagar para correr. Você pagaria?

Se estivesse nesta situação, preferiria parar de correr. Com a carreira dele, é inaceitável que precise levar dinheiro a uma equipe, por isso disse a ele que deveria parar. Não acho que ele esteja velho ou pior do que quando lutava por títulos, só não acho que ele deva passar de piloto profissional a piloto pagante. Isso não aconteceria comigo.

Seu contrato acaba no fim de 2012. Do jeito que as coisas na Ferrari estão, quer continuar?

Não sei. Tenho que ver como vão ser as coisas em 2012. Tudo que eu quero é ter um ano competitivo, disputar corridas e o campeonato. Se isso acontecer, não tem por que mudar. Não adianta você querer ficar numa equipe que não quer você e vice-versa. Tem que ter vontade dos dois. Mas eu adoro a Ferrari e espero que tudo fique assim.

Acredita que haja mercado fora da Ferrari?

Acredito que sim.

Se estivesse na posição do Stefano Domenicali, o chefe do time, renovaria seu contrato?

Este ano não foi positivo para mim, mas também não foi para a minha equipe. Mas, a partir do ano que vem, eu quero que seja diferente. Na F-1, tudo funciona em cima dos resultados. Se eu não tiver um ano bom em 2012 e a equipe não quiser renovar comigo, é totalmente aceitável, assim como o contrário também é verdadeiro. Quando um não quer dois não brigam.

Se arrepende de ter deixado o Alonso passar na Alemanha?

Não. Não porque, da minha parte, foi o jeito mais profissional de encarar a situação. O que fiz acontece em qualquer empresa. Quando te dão uma ordem, você tem que seguir. Acho que qualquer piloto profissional faria o mesmo. Mas isso não significa que tenha sido fácil.

Se no domingo você estiver vencendo a corrida e a Ferrari te pedir para dar a vitória ao Alonso para ele conquistar o vice-campeonato, você abriria passagem mesmo com a temporada ruim que teve?

Vou continuar sendo um profissional.

Que nota daria para seu ano?

[risos] Baixa.

Menos de cinco?

Não, mas também não muito mais que isso [risos].

Você às vezes se pega pensando no seu acidente?

Às vezes eu estou escovando dente ou fazendo outra coisa, vejo a cicatriz e me lembro. Mas não fico pensando nisso e não tenho nenhum trauma. Não penso muito no acidente porque eu não lembro de nada da batida. Tenho o capacete destruído na minha sala e às vezes olho para ele, mas não é nada demais.

Você faz algum tipo de acompanhamento médico?

Faço uma vez por ano. Até o ano passado era um pouco mais frequente, a cada seis meses. Mas, como nunca teve muita coisa dentro da cabeça... [risos]

Mudou alguma coisa na sua vida depois do acidente?

Sem dúvida hoje eu dou muito mais valor à vida. A gente sabe que essas coisas podem acontecer, mas nunca acha que vai ser com a gente, sempre imagina que vai ser com os outros. Hoje eu sei que pode acontecer com qualquer um e quando você menos espera. Não era minha hora, por isso não tenho medo. Por um tiquinho a mais eu podia ter ficado cego, ter morrido, ficado bobo, ou não ter acontecido nada mesmo.

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