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Esporte

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Xico Sá

Carta aberta ao Cuca

Sim, é possível ser mineiro e fundamentalista ao mesmo tempo, desde que seja, eu acredito, alvinegro

Amigo torcedor, amigo secador, peço a devida licença, como sempre acontece nos momentos especiais do esporte, para me dirigir a um só camarada, somente uma criatura nesta semana de Missa do Galo antecipada, um cristão simplesmente no meio da legião de mineiros fundamentalistas.

Sim, é possível, por mais incrível que pareça, ser mineiro e fundamentalista ao mesmo tempo, desde que seja, eu acredito, alvinegro, inconfidente, Libertas Quae Sera Tamen, Libertadores da América.

Peço a devida licença, repito, para me dirigir ao Cuca, o cidadão Alexi Stival, curitibano, tido e havido como um homem azarado, mesmo que, passando a régua nos números e nas sensações, tenha feito milagres com o Goiás, com o Fluminense e, por razões estéticas, com um Botafogo que jogou mais bonito do que as lutas ferrenhas nos romances de capa e espada.

Nesta fase, os idiotas da objetividade, como me lembra o tio Nelson, te pregaram na cruz com o martelo da ignorância. Os bons ladrões da arbitragem, nada bíblicos, ajudaram a te imobilizar, não como injustiçado, mas como um chorão nato. Injustiça prego a prego, bem sabes.

Como me dizia o doutor Sócrates, nos nossos diálogos platônicos na madruga paulistana: "Esse sabe o jogo". Era o maior elogio que saia da boca do doutor, meu guia, meu guru, o amigo que me ensinou que a vida não cabe na prancheta. A vida é sempre mais escorregadia e amante do acaso do que qualquer fiel marido cerebral imagina.

Caro Cuca, na semana do papa em terras brasileiras, na semana em que nevou nos trópicos, na semana em que todos duvidavam --menos os atleticanos--, na semana em que morreu Djalma Santos, conquistastes não um título, conquistastes a liberdade, mesmo que tardia, do maldito estigma, logo tu, crente até as últimas consequências, logo tu que conheces dos mistérios dos cruéis diagnósticos desde a morte do pai, amém.

Tudo é possível, no Galo, o homem pode tudo, porque o galo é a metáfora penada, penosa, penitente, do poder e também da humildade, o mundo coberto de penas como nas vidas secas do romance de Graciliano Ramos.

Daqui por diante, Cuca, diga como um gênio da poesia, diga como no poema de Walt Whitman, um americano gente simples, pés descalços, um torcedor do Galo mesmo antes de o Galo ter nascido. Ele dizia, depois de muita merda na sua vida: "Daqui por diante não digo mais boa sorte, boa sorte sou eu".

@xicosa


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