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Rita Siza

Portugal e a Euro

O optimismo voltou a fugir quando Portugal caiu no chamado 'grupo da morte' no sorteio da Euro

Neste país em profunda crise econômica e financeira que é Portugal, agarramos qualquer desculpa para desanuviar das agruras do cotidiano e celebrar a grandeza da pátria.

Depois de uma qualificação sofrível para a Eurocopa-2012, a convincente e folgada vitória por

6 a 2 contra a Bósnia, na última partida do play-off das eliminatórias do Campeonato Europeu, fez o país à beira de um ataque de nervos suspirar de alívio.

"Afinal ainda vai haver Euro em 2012!", comentava-se com alegria, como se, em vez do futebol, estivéssemos realmente a falar da moeda única europeia, em risco de colapso iminente.

Ontem, o optimismo voltou a fugir quando Portugal caiu no chamado "grupo da morte" no sorteio para os grupos do campeonato europeu que se vai jogar na Polônia e Ucrânia.

Com tanto dedo cruzado para não nos tocar logo a Espanha ou a França, nossos eternos carrascos, fomos calhar no pote da Alemanha, Holanda e Dinamarca.

Ou seja, para quem queria evitar os "colossos europeus" no arranque da Euro, a sorte não podia ter sido mais madrasta: todos os nossos futuros adversários já foram campeões europeus.

Além de que a Federação Portuguesa de Futebol já tinha revelado que a sua preferência ia para jogar na Polônia, e calhou ao Grupo B ficar na Ucrânia.

Talvez tenha sido culpa da recente elevação do fado à categoria de patrimônio imaterial da humanidade -precisamos de razões para nos lamentar do nosso constante azar, ou na voz dos fadistas, cantar a nossa miserável desdita...

No entanto, tenho dúvidas que multidões de adeptos portugueses viajem no próximo ano para apoiar a seleção na Euro-2012.

Sujeitos a cortes de salários e aumentos de preços por causa do programa de austeridade em curso, não sei se muitos estarão em condições de suportar os custos do seu amor ao futebol.

Ainda por cima, os organizadores não parecem interessados em facilitar a vida aos torcedores empobrecidos.

A especulação com o campeonato já é galopante, e os preços da hotelaria dispararam.

Por exemplo, em Gdansk, no Norte da Polônia, a diária de um hotel de gama média vai subir dos atuais € 58 para € 276.

Se essa for mesmo a realidade, podemos esperar ver as bancadas repletas apenas com torcedores alemães.

Mas, como o euro (o outro) já parece ser só deles, isso até que faz sentido.

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