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Ser corintiano

As manias e crenças de quem torce (ou sofre) pelo Corinthians

VERA MAGALHÃES
DE SÃO PAULO

A "invasão do Maracanã" faz 35 anos amanhã. Muito corintiano -ou corinthiano, como eles preferem- acha datas como essa mais importantes do que ser ou não campeão hoje. E isso diz muito sobre o que é ser corintiano.

O Datafolha apontou, em 2010, que os corintianos são 14% dos brasileiros, pouco atrás da torcida do Flamengo. Mas os torcedores ignoram o dado e alardeiam que são 30 milhões de "loucos" espalhados pelo mundo.

Ser corintiano é achar que um jogador mediano como Tupãzinho, que jogou no time paulista nos anos 90, é mais ídolo do que Edmundo -que, a despeito de ter sido da seleção brasileira, não teve uma "história" no clube.

Ser corintiano é saber de cor e salteado a história dos cinco jovens operários do Bom Retiro que fundaram um clube de várzea em setembro de 1910, à luz de um lampião.

É, sobretudo, propagar essas histórias, uma certa mística alvinegra que é repetida como mantra por todos.

"A diferença do corintiano para os outros é que a gente vive o Corinthians. A gente vai ver o Corinthians", diz a jornalista Leonor Macedo, 29, torcedora-símbolo do time.

"Ganhar é ótimo, mas viver o Corinthians à flor da pele é melhor", afirma ela, que é autora de blog sobre "corinthianismo", como os fieis definem o culto à equipe.

Outra característica, já apontada em pesquisa Datafolha, é que o corintiano é o torcedor que mais transmite sua paixão para os filhos.

"Já nasci corintiana. Meu filho, Lucas, já nasceu corintiano. Em casa, até o cachorro é corintiano", diz Leonor.

Torcedor que é torcedor cumpre uma série de rituais nos dias de jogos, não usa verde em hipótese alguma e tem o Pacaembu como seu templo de adoração.

A ponto de olhar com desconfiança a construção do Itaquerão. "Já estou saudoso do Pacaembu", declara o estudante de História e blogueiro Filipe Gonçalves.

"O Itaquerão vai ser bom porque vai ser um estádio moderno no meio da maloca, mas a diretoria terá de dosar o marketing com a garantia de acesso ao torcedor pobre."

Outra característica do corintiano é o envolvimento político com o clube. Daí nasceu a Gaviões da Fiel, que desembocou na "Democracia Corintiana" e, hoje, torce o nariz para iniciativas como vender a terra sagrada do Itaquerão.

"O Corinthians tem que abrir uma escola em Itaquera. Porque o Corinthians não é só um time de futebol. É uma causa, é uma ação social", defende Gonçalves.

Mais do que tudo isso, porém, ser corintiano é alimentar uma rivalidade de morte com o Palmeiras, adversário do time na decisão de hoje.

"O Palmeiras nasceu da nossa costela. É a nossa Eva. Isso ficou entranhado no nosso sangue. A rivalidade é quase respeito", resume Leonor.

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