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Xico Sá

A criança e a dor do futebol

Ninguém sofre mais com futebol do que uma criança; aí se forja o homem, o caráter

Amigo torcedor, amigo secador, ninguém sofre mais com futebol do que uma criança. Nem o mais angustiado dos goleiros na hora do gol, caro Belchior, sofre tanto. Talvez seja a primeira ideia do conhecimento das dores do mundo. Aí se forja o homem, o caráter, aí começa o madureza ginasial completo do menino. Nessa hora todos somos aquele guri, só beiço e lágrimas, da capa do "Jornal da Tarde" na tragédia do Sarriá, em 5 de julho de 1982.

Fotografado por Reginaldo Manente, um dos gigantes na arte do flagrante esportivo, aquele menino éramos todos nós chorando a eliminação do escrete de Falcão, Zico e doutor Sócrates, um dos maiores times desde que o homem deixou de andar de quatro e fundou a humanidade. Para um pivete, um piá, um pirraia, um cabinha --e outros tantos apelidos de crianças pelo Brasil afora-- nem carece uma Copa para descolorir o universo, basta um jogo qualquer, toda pelada pode se constituir um épico, uma lição de história.

O futebol é o segundo útero de uma criança em matéria de formação. Nasci em 1962, como na música do Ira!, nasci já bicampeão do mundo com o Brasil de Garrincha e com o Santos de Pelé & grande elenco. As dificuldades materiais, e só materiais, eram muitas no meu Cariri, lá no meu pé de serra. E haja fartura simbólica e futebolística até os anos 1970. Uma coisa compensa a outra, já diria o filósofo da vida simples.

Signo de homem não é áries, touro, gêmeos, câncer, leão, virgem, balança como este equilibrado cronista. Signo de homem é o seu time. Na maioria das vezes transmitida pelo sangue paterno, em algumas ocasiões pela zebra do destino. É fácil ter nascido nos anos 1960 e ser Santos, Botafogo, Cruzeiro, Bahia, Náutico... É moleza ter sido criança nos anos 1980 e amar o Flamengo de Leandro, Júnior, Andrade, Adílio, Zico... Quem era menino na década de 90 há de lembrar do São Paulo de Cerezo, Raí, Palhinha e Müller e seu Telê no banco.

Um menino estranho, do tipo que merece cuidados, lembrará, por exemplo, que Dinho, o justiceiro da caatinga, também fez parte desse time. Como também é lembrado por meninos esquisitos do Sport e do Grêmio. O Corinthians, no entanto, tem duas categorias de pequenas criaturas: a que só viu uma taça depois de grande; a geração Japão que abriu os olhos para ser campeã do mundo.

Há quem diga que a derrota seja uma melhor escola de homem. Talvez forme meninos menos mimados e sem mimimis. Por este critério os velhos corintianos são os caras mais cascudos do planeta. Faz sentido.

O menino do dedo verde, assim como o Tistu do livro homônimo, estava feliz e com a vida ganha até os oito anos, depois viu o cinza da Segundona, agora amadurece com o seu Palmeiras. Nada como o futebol para formar um caráter e definir uma vida. Parabéns criançada de todas as cores.

@xicosa


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