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Juca Kfouri
Cara ou coroa
Rogério Ceni está para a torcida do São Paulo assim como Alexandre Pato não está para a do Corinthians
DNA É o tema, no sentido popular dado à sigla, como marca.
Desde as origens, o São Paulo é o clube da elite, e o Corinthians, o do povão. O que não impediu a popularização do tricolor a ponto de ter hoje a segunda torcida do Estado e a terceira do país.
Nem que o alvinegro seja majoritário em todas as camadas. Em 1983, por exemplo, o governador paulista, Franco Montoro, o arcebispo emérito de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, e o principal empresário do país, Antônio Ermírio de Moraes, faziam parte da Fiel.
A Fiel, por ser como é, pode ter como ídolo alguém como Sócrates, mas morre de amores mesmo por tipos como Biro-Biro, um igual, nas origens.
Assim acontece com a torcida são-paulina, tradicionalmente identificada mais com ídolos como Raí, Kaká, ou com o Mito Ceni, sem deixar de ser capaz de apreciar Luis Fabiano ou Aloísio.
Tudo isso para dizer que as consequências das atuações do goleiro e de Alexandre Pato na quarta-feira passada vão além delas mesmas.
Rogério fez mais uma exibição épica, das maiores em sua longa e vitoriosa carreira, aos 40 anos!
Se é prova de que deve seguir ou de significar o canto do cisne só a ele cabe decidir.
Sócrates, ainda o corintiano, não o grego, ensinou que nenhum jogador abandona o futebol, é o futebol que abandona o jogador, com as exceções de praxe.
Esta claro, até com ironia, que o goleiro conhecido mundialmente mais por ser artilheiro, pode estar sendo abandonado pelos pés goleadores, mas suas mãos, as essenciais para o ofício, estas seguem em forma.
Mudando de cisne para Pato, o da cavadinha, este, aos 24 anos, virou popstar antes de se consolidar como jogador e agride o DNA corintiano.
Outro popstar, Ronaldo Fenômeno, maduro e em fim de trajetória, teve a inteligência de se inscrever como mais um no bando de loucos, sensibilidade que nem poderia ser exigida de Pato e ausente em quem o trouxe, num erro apontado à época pelos que, ao menos, imaginam entender um pouco da alma corintiana.
Cisne, Pato, Ganso. O caso de Paulo Henrique se insere na mesma lógica, de alguém com tudo para vir a ser no Morumbi o que não seria nem no Parque São Jorge nem em Itaquera.
O melhor jogador da história corintiana, Roberto Rivellino, por muito menos, injusta e burramente, foi repelido pela Fiel, que jamais faria algo igual com Ezequiel. Lembra dele?
Porque por mais que a ciência desenvolva todas as informações possíveis e imagináveis a partir do DNA, há mistérios no mundo do futebol nem tão inexplicáveis assim, frutos de entidade mítica, insondável, regida por algo maior, o tal deus dos estádios, no qual até os ateus acreditam.
Quem descrê, acaba trocando gato, Pato, por lebre.
É preferível ficar com o Mito.
Porque o coroa é o cara.