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Males que vêm para o bem

Seis anos após revés, Nova York comemora não ser sede da Olimpíada com recuperação de área degradada

CHARLES V. BAGLI
do ‘new york times’

No fim de seu primeiro mandato, o prefeito Michael Bloomberg sofreu uma dolorosa derrota quando Nova York perdeu a disputa para sediar a Olimpíada de 2012.

Mas um novo e vibrante bairro está surgindo na área em que o estádio e o complexo olímpico seriam construídos, no Far West Side.

Como resultado, autoridades, incorporadoras imobiliárias e urbanistas estão aceitando uma ideia improvável: a derrota na disputa olímpica pode ter sido uma das melhores coisas para o crescimento recente de Nova York.

O governo Bloomberg redirecionou muitos dos elementos de seu esforço olímpico para criar o projeto Hudson Yards, um distrito residencial e comercial a oeste da Oitava Avenida, em uma área antes desolada e ocupada por fábricas, galpões e estacionamentos, entre as ruas 30 e 43.

Desde 2005, o ano da derrota olímpica, 15 torres residenciais e uma dúzia de hotéis surgiram na área.

A Related Companies, grande incorporadora imobiliária da cidade, anunciou planos de erigir torre de escritórios de 51 andares no local do estádio olímpico. A rede Coach, de produtos de luxo, será inquilina do projeto.

Ninguém antecipa que uma nova recessão nos próximos anos poderia solapar os planos, mas, ainda assim, funcionários da prefeitura preveem que, dentro de 20 anos, o Hudson Yard pode abrigar mais áreas de escritórios que as cidades de Baltimore ou Portland (Oregon), e tantos apartamentos quanto Stamford, no Connecticut.

Uma extensão do metrô está dois terços concluída, ao custo de mais de US$ 2 bilhões, e deve ser inaugurada em 2013. Em 2012, devem começar as obras de um novo bulevar arborizado. Os projetos foram concebidos como parte do esforço olímpico.

Planejadores apontam que, caso os Jogos fossem em Nova York, a prefeitura teria sido obrigada a cobrir bilhões de dólares em estouro de despesas e arcar com instalações esportivas sem grande expectativa de uso posterior.

"É irônico que o Hudson Yards tenha nascido da derrota na candidatura olímpica", disse Jeffrey Kats, dono de terrenos incorporados no local. "Mas, aparentemente, foi melhor para a cidade não ter o estádio olímpico por lá."

"Imagine como seria ter um grande estádio ali. O projeto dominaria toda a área, e isso não necessariamente seria vantagem", completou.

O rejuvenescimento do bairro e a expansão do distrito empresarial estariam entre os mais duradouros legados de Bloomberg, objetivo que escapou aos prefeitos precedentes -Edward Koch, David Dinkins e Rudolph Giuliani.

Os três tentaram reaproveitar essa área industrial após os píeres das linhas de navegação serem desativados e o distrito têxtil ter encolhido.

Mesmo Bloomberg, que admitiu que "odeia perder", diz que a derrota nos Jogos virou uma vantagem inesperada.

"Tendo em vista o que aconteceu com a economia, teria sido difícil levantar todo o capital requerido."

"Acreditávamos que a Olimpíada seria o catalisador para muitas coisas consideradas necessárias para a cidade", disse. "E, na verdade, muitas delas foram feitas mesmo sem os Jogos."

Desde que assumiu, em 2002, Bloomberg tornou o esforço olímpico e a reforma do Far West Side prioridades.

O principal responsável pelo projeto, Daniel Doctoroff, antigo vice de Bloomberg, combinou várias instalações esportivas novas ou reformadas nos cinco burgos da cidade e planos para reformar a área industrial a beira-rio.

Argumentou que alterar o zoneamento do West Side para permitir a construção de torres comerciais seria necessário para a sobrevivência de Nova York como centro das finanças, mídia e comunicações porque Manhattan estava esgotando seu espaço para incorporação imobiliária.

Mas o plano olímpico também estava vinculado à proposta pouco popular de um estádio de US$ 2 bilhões e um centro de convenções expandido em uma área vizinha.

Bloomberg perdeu os Jogos, mas venceu a batalha para mudar o zoneamento em 2005 e teve aprovados planos para construir mais 2,1 milhões de m² de escritórios e 13 mil apartamentos.

Desde então, o governo Bloomberg investe pesadamente no Far West Side e emitiu US$ 3 bilhões em títulos de dívida para financiar a expansão do metrô e a construção de praças e do bulevar entre as avenidas 10 e 11, resquício do plano olímpico.

Os projetos comerciais avançam mais devagar devido à falta de transporte público na área, sua localização não testada e os caros pisos que precisam ser instalados sobre os trilhos ferroviários.

Mesmo assim, incorporadoras envolvidas no projeto dizem que os primeiros edifícios comerciais surgirão em poucos anos, especialmente quando a linha de metrô começar a operar, em 2013.

Mitchell Moss, diretor do Centro Rudin de Gestão e Política do Transporte, na Universidade de Nova York, disse que os projetos mostravam que a cidade havia se beneficiado de alguns aspectos do plano olímpico, mas também de ter perdido os Jogos.

"Criamos oportunidades para novos projetos residenciais e espaços comerciais, além de um corredor de recreação inteiramente novo", disse Moss, autor de um relatório em que diz que Nova York ganhou sem os Jogos.

"Tendo em vista o rápido desenvolvimento do Far West Side, nos saímos melhor do que as pessoas teriam imaginado, sem a Olimpíada."

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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