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Linha-dura

Potência do handebol, Rússia tem técnico com temperamento explosivo e que admite ser ditador

DANIEL BRITO
de são paulo

Com 1,90 m de altura, cabelos claros e um rosto gordo com frequente expressão de irritação, o russo Ievgeni Trefilov, 56, é o treinador que mais chama a atenção no Mundial feminino de handebol, disputado em São Paulo desde o dia 2 de dezembro.

O técnico comanda a seleção feminina da Rússia, que venceu ontem a Islândia por 30 a 19 em Barueri e garantiu vaga nas quartas de final.

Trefilov é conhecido no mundo do handebol por seu temperamento explosivo à beira da quadra e por suas orientações no mínimo mal-

-educadas às jogadoras.

É também responsável por transformar a Rússia na maior potência do handebol atual. Desde que assumiu o posto, em 1999, a seleção obteve quatro títulos mundiais, em 2001, 2005, 2007 e 2009.

Para muitos, Trefilov é a versão no handebol do técnico russo de vôlei Nicolai Karpol, 73. Tido como um dos maiores treinadores da história do esporte moderno, Karpol foi duas vezes campeão olímpico (1980 e 1988).

"Trefilov não tem a inteligência de Karpol, mas consegue cativar as jogadoras com a emoção", declarou o jornalista Artem Shmelkov, do canal russo NTV-Plus.

Durante os tempos técnicos, Karpol gritava muito com suas atletas -assim como faz atualmente Trefilov em quadra-, mas não as ofendia.

O mesmo não pode ser dito sobre o técnico do handebol. Uma emissora de TV norueguesa traduziu os gritos de Trefilov durante um jogo.

"Você não aprendeu a correr?", reclama o técnico quando uma atleta é superada por uma rival. "Você não é uma atleta profissional. Vai ter que treinar muito para se tornar", diz o russo após um erro de uma de suas jogadoras.

"Karpol é Karpol. Eu sou Trefilov. Cada um tem seu jeito. Não sou parecido com ninguém", afirmou, após a vitória ante o Cazaquistão, na sexta. "Quando grito, é pelo meu país, não é pessoal."

"Se a atleta arremessa de forma errada no gol, eu vou ficar calado, só assistindo? Então a Rússia não precisaria me mandar para os campeonatos", declarou, aos gritos, em russo, na pequena sala de imprensa do ginásio José Correa, em Barueri.

O técnico russo admite ser um ditador para o time.

No Mundial de 2007, na França, Trefilov até deu uma folga de 24 horas às atletas antes do jogo contra o Brasil. No dia seguinte, as duas equipes empataram em 31 gols.

"Aquele dia serve como exemplo de que não se pode ser suave com as mulheres. Especialmente as russas."

Após gritar por mais de 15 minutos em russo na entrevista coletiva em que só a Folha esteve presente, Trefilov despediu-se da reportagem de forma triunfal.

"A sorte é que vocês [brasileiros] vivem em uma democracia, então você pode escrever o que quiser sobre mim no seu jornal", afirmou.

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