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Juca Kfouri

Torcedor

Entre as definições e a origem da palavra que designa quem torce para um time, vândalo não tem vez

TORCER É distorcer, alguém já disse. É deixar que a emoção sobrepuje a razão.

Na origem, quando o futebol era da elite brasileira, a torcedora surgiu antes do torcedor, porque eram as mulheres que tiravam suas luvas e as torciam de nervosas, para não roer as unhas. Quando não eram as luvas, eram os lenços, muitas vezes fornecidos pelos cavalheiros que as acompanhavam aos estádios.

Teria sido o escritor e poeta Coelho Neto, pai de dois jogadores do Fluminense --um deles, Preguinho, o autor do primeiro gol brasileiro numa Copa do Mundo, em 1930--, quem primeiro usou o termo para descrever a aflição de torcedoras. (O outro filho do cronista, Mano, morreu como consequência de uma bolada).

Ser torcedor, daqueles de ir a campo, hoje em dia, é, antes de mais nada, um ato de coragem. Porque corre-se o risco de envolvimento com outro tipo de frequentador de estádio, que adota um complemento ao termo: organizado.

Os organizados são responsáveis pelas coreografias, bandeiras, faixas, painéis, mosaicos, músicas, tudo muito bonito. E pelo terror.

Pela violência que ameaça os cartolas, que morrem de medo deles e os alimentam, ameaça os jogadores e... os torcedores.

Tudo porque gozam da impunidade fruto de uma Justiça frouxa e de uma polícia despreparada, que ou se omite ou agride indiscriminadamente.

Até hoje não houve um presidente da República, um governador de Estado, um prefeito no Brasil que tenha dado a devida atenção ao problema.

Em compensação, não são poucos os oportunistas que já surfaram na onda dos discursos demagógicos ou das medidas extremas e irrealistas.

Uma delas, a extinção das torcidas organizadas.

Em vez de resolver o problema com prevenção, repressão e punição, propõem a pura e simples extinção que faz Mancha Verde virar Alviverde e, quem sabe, Gaviões virarem Falcões.

Quando o mundo moderno discute a descriminalização das drogas, a panaceia por aqui, para que o Estado fuja de sua obrigação, é a extinção das torcidas organizadas ou a paz dos cemitérios.

Não. O governo brasileiro investiu bom dinheiro para produzir ampla e competente radiografia da situação, e a publicou em 2006, para depois engavetar o diagnóstico e não aplicar suas sugestões, diferentemente do que fez o governo inglês, no anos 1990, com o famoso Relatório Taylor.

O gigante portenho Boca Juniors hoje é refém de seus barras bravas.

Caminhamos céleres nesta direção se nada for feito urgentemente, porque a hora já passou e não é de hoje, é de, no mínimo, meados dos anos 1990.

Nos 60, alertava-se que a favela ia descer dos morros no Rio. Desceu.

Meus filhos, quando pequenos, iam aos estádios. Minhas netas não vão.

Acorda, Dilma! Levanta, Alckmin! Desperta, Haddad!


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