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Rivaldo anuncia a aposentadoria aos 41

HISTÓRIA Acanhado e imprevisível, o melhor jogador do mundo em 1999 vinha sofrendo com dores nos joelhos

DIEGO IWATA LIMA DE SÃO PAULO

Aos 41 anos, Rivaldo não é mais jogador de futebol.

A decisão de se aposentar, como ele disse, veio após alguns minutos de reflexão, na madrugada de ontem. Algumas horas depois, pela manhã, anunciou sua retirada dos campos por meio das redes sociais.

Era, até então, meia do Mogi Mirim, que disputa o Campeonato Paulista.

"Com lágrimas nos olhos, venho comunicar a todos os torcedores do mundo que minha história como jogador chegou ao fim", escreveu ele, escolhido como o melhor jogador do mundo pela Fifa em 1999, quando jogava pelo Barcelona.

Nascido na cidade pernambucana de Paulista, Rivaldo Vitor Borba Ferreira é considerado por muitos especialistas o maior responsável pela conquista do pentacampeonato mundial pela seleção brasileira, em 2002, o que significa, entre outras coisas, que foi mais importante para a obtenção daquele título do que Ronaldo.

O meia começou a ganhar projeção nacional em 1992, no Mogi Mirim, que foi apelidado de "carrossel caipira" --voltaria a jogar pela equipe 21 anos depois.

Passou depois por Palmeiras, Corinthians, pelos espanhóis La Coruña e Barcelona, pelo grego Olympiacos, entre vários outros.

Colecionou conquistas relevantes, como os títulos nacionais da Espanha (1998 e 1999) e a Liga dos Campeões, pelo Milan, em 2003.

Embora já somasse 24 anos de carreira, Rivaldo queria se manter em campo. "Muitos queriam que eu parasse antes, mas o futebol está no meu sangue", escreveu Rivaldo na nota de despedida.

Há menos de duas semanas, em entrevista à Folha, ele havia dito que pretendia jogar por mais tempo. Mas seus joelhos já eram uma grande preocupação --em novembro do ano passado, foi submetido a uma artroscopia no joelho direito.

"Adoraria fazer um gol após uma jogada com meu filho, por exemplo. Mas o corpo atrapalha", disse.

Rivaldinho, 19, é um meia talentoso, formado nas categorias de base do Mogi, time do qual seu pai é presidente.

Nos últimos anos, aliás, Rivaldo transitou entre os escritórios como cartola e os gramados como jogador. Em ambos, foi imprevisível --e nem sempre de maneira positiva.

SURPRESAS E MÁGOAS

Especialmente na última década, Rivaldo assinou contratos e rescisões quando menos se esperava.

Em 2004, após passagem frustrada pelo Milan, Rivaldo havia aceitado convite do técnico Vanderlei Luxemburgo para jogar pelo Cruzeiro. Atuou bem em dez partidas. No entanto, bastou a diretoria demitir Luxemburgo para que ele tomasse outro rumo.

No início de 2011, anunciou com pompa seu retorno ao Mogi Mirim para ser presidente e jogador.

Para garantir um bom público nas partidas, mandou confeccionar carnês com ingressos para todos os jogos do time no Paulista. As peças traziam estampadas o rosto dele e o slogan: "Eu voltei. Agora, só falta você".

O dirigente estava lá, mas faltava o jogador. A torcida se tornava apreensiva com a demora em vê-lo em campo.

Em 22 de janeiro, para o espanto dos fãs do time do interior paulista, Rivaldo anunciou ter fechado contrato para jogar no São Paulo. A ida dele para o time de Rogério Ceni até hoje não foi bem digerida em Mogi.

"Ficou uma mágoa. Tem gente que só vai ao estádio para xingar", conta o ex-técnico do time, Ailton Silva, demitido do Mogi há 17 dias.

No São Paulo, onde não se firmou como titular, Rivaldo ficou por um ano, antes de se transferir para o Kabuscorp, de Angola.

Embora jogasse pelo São Paulo, manteve-se como presidente do Mogi. Com a mudança para o país africano, ele se afastou das incumbências de dirigente, o que decepcionou os diretores do fundo Energy Sports, empresa que tinha assinado contrato de co-gestão com Rivaldo no Mogi, no início de 2012.

"Enquanto estava no São Paulo, ainda conseguíamos falar com ele. Ao se transferir para Angola, sumiu, deixando o Wilson Bonetti (atual vice-presidente do clube), no comando", conta Marcelo Pettinati, diretor da Energy.

A rompimento entre eles foi tempestuoso, conta Pettinati. "De uma hora para outra, cortou investimentos e, praticamente, nos forçou a sair", afirma o executivo.

Em 2013, após passagem mal-sucedida pelo São Caetano, Rivaldo voltou, enfim, a jogar pelo Mogi. Sem anúncio prévio, decidiu atuar pelo time na estreia da equipe no Paulista. O adversário? Ironia, era o São Paulo.

ESCONDE-ESCONDE

Rivaldo sempre foi um sujeito tímido. E, ao longo do tempo, tornou-se ainda mais avesso aos holofotes.

No ano em que o Brasil será sede da Copa, o camisa 10 da última seleção brasileira campeão mundial simplesmente não quer aparecer.

Ao contrário de alguns de seus colegas na conquista, como Cafu, garoto-propaganda de campanhas que tem a Copa como tema, Rivaldo não tem nenhuma ligação comercial com o torneio.

"A última Copa em que atuei já aconteceu há muito tempo. O que é que vou falar sobre isso?", disse o jogador, lacônico, em curta entrevista à Folha no camarote do estádio do Mogi.

Nessa ocasião, respondeu apenas "sim" ou "não" à maior parte das perguntas. A intenção da reportagem era abordar, entre outros assuntos, temas como suas desavenças com o fundo Energy, mas Rivaldo logo pediu que a conversa fosse encerrada.

No mesmo dia, ele já havia negado dois pedidos de entrevista para emissoras de TV.

A entrevista com Rivaldo, aliás, só aconteceu porque ele foi pego de surpresa no intervalo do jogo do último dia 6, entre Mogi e Santos, que terminou em 5 a 2 para o Santos.

A partida significou um aborrecimento para Rivaldo, e não apenas pelo placar.

Foi ao final desse jogo que torcedores do Mogi xingaram o santista Arouca de macaco, o que levou Rivaldo a condenar publicamente os atos.

A atitude dos torcedores causou a interdição do estádio Romildo Vitor Borba, e o clube será julgado amanhã pelo TJD (Tribunal de Justiça Desportiva).

O estádio, aliás, foi rebatizado por Rivaldo em 2008, em homenagem a seu pai. A mudança desagradou moradores de Mogi, que preferiam o nome anterior, João Paulo 2º, em referência ao Papa.

Definitivamente, Rivaldo não é para principiantes.


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