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Entrevista Juvenal Juvêncio

Não termos sido sede da Copa foi uma enorme vitória

De saída após 8 anos À frente do São Paulo, cartola relembra decisão de excluir o morumbi do mundial

BERNARDO ITRI DO PAINEL FC

Nesta quarta, Juvenal Juvêncio, 80, se despedirá do São Paulo após oito anos consecutivos na presidência.

Em entrevista à Folha, ele disse que ainda não sabe o que fará após deixar o cargo.

Exaltou o legado da sua gestão, com três títulos do Brasileiro, uma Copa Sul-Americana e a criação do centro de treinamento de Cotia.

Embora tenha batalhado para receber jogos da Copa no Morumbi e até lamentado a perda, hoje o cartola encara como uma vitória o fato de o estádio não ter sido escolhido para o Mundial que acontece em menos de dois meses.

Folha - Como o senhor está às vésperas de deixar o clube?

Juvenal Juvêncio - Os últimos dias estão cansativos. Pedi para levantarem os títulos da minha passagem. Tem alguns que ninguém conta. Troféu Miguel Assad Macool Filho. Se me perguntar o que é isso, eu não sei. Mas alguns dispensam apresentação.

Qual é o balanço que o senhor faz dos oito anos de gestão? E qual é seu legado?

Foi uma gestão fértil, eficaz. O São Paulo cresceu muito, e eu ajudei a solidificar esse processo.

Eu tenho um parque social em que não há inadimplência. No futebol, qual é o produto que nós temos para vender? A paixão. Não ganhou, fica negativo. Mas, com a formação do CT de Cotia, eu disse que o São Paulo não vai alcançar o futuro porque já vive o presente e o futuro.

Estou consciente de que fiz um papel edificante ao clube. E a história vai falar isso.

A perda da Copa do Mundo foi a principal frustração?

Não tive grandes frustrações. Nem a Copa. Não termos sido escolhidos como sede foi uma vitória enorme. Eu queria a Copa? Sim. O Morumbi era, por natureza, a melhor casa para receber os jogos. O Ricardo Teixeira [então presidente da CBF] queria fazer um estádio em São Paulo. Tanto que o discurso era: "A Copa é particular, não terá governo". Ele sabia o que estava fazendo, essa falácia.

Ele [Teixeira] não queria interferência do governo, como não quis nunca receber nada na CBF do governo porque, atrás de verbas governamentais, sobretudo do âmbito federal, vêm o Tribunal de Contas da União.

Mas ele queria fazer isso aí [estádio] e havia um obstáculo chamado Juvenal. Aproveitou e nos tirou da Copa. Para aqueles que dizem "perdeu a Copa do Mundo", respondo: "Eu não perdi, eu ganhei".

Além de político, o problema era financeiro?

Aqueles que estão na Copa estão arrependidos. Esses clubes que participaram disso não vão conseguir pagar essa conta. Eu sei quanto o futebol rende no fim do mês. O futebol está liquidado. Paga o que não pode pagar.

Eu pago a metade do que os clubes do Rio pagam. Não adianta falar que os clubes não quebram porque sempre tem uma sexta-feira [dia ruim] na vida da gente.

O que tem levado o futebol a essa agonia?

Má gestão. Os dirigentes atropelam a razão. Não vamos sobreviver do modo como está.

O dinheiro da TV criou uma ilusão para os clubes?

Hoje ela paga bem em relação ao que pagava. Não é a Europa, mas melhorou.

Mas o futebol está tão amorfo que terá uma eleição na CBF nesta semana e só há um candidato.

Eu dizia ao Lula que o governo precisava intervir na CBF. Ele dizia: "Não posso, é uma entidade particular".

Eu dizia: "Coloca o Tribunal de Contas, muda a legislação. Preserva esse bem do povo brasileiro".

Se tirar o futebol do povo brasileiro, ele vai rir do quê? Por que não preservar isso com o governo? Não nomeando presidentes, técnicos, mas dando parâmetros para administração.

Sou favorável porque eu conheço meus parceiros [de clubes]. São débeis, fracos.

Esse era o momento de o Brasil se mostrar, mas estamos nos digladiando porque falta cadeira, falta estádio.

E o trabalho que vai dar para colocar uma Angela Merkel [chanceler alemã] em Itaquera? Multiplique isso por 200 chefes de Estado. Só nos resta rezar.

O que fará ao deixar a presidência do São Paulo?

Juro que não sei. Me dediquei de corpo e alma nesse processo. Trabalhei demais, sofri demais. As alegrias são os 15 minutos depois do jogo, com vitória. Passado esses 15 minutos, você pensa no próximo jogo. Mas vou sair.

Fui procurado pelos chineses para ajudá-los a abrir as portas do futebol no país. Conversei com o embaixador chinês e disse: "Não joguem críquete, joguem futebol".Quero ver se participo dessa abertura deles ao futebol. Também tenho minha fazenda, estou desmontando meu escritório. Acho que vão sentir saudades de mim.


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