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Entrevista - Bernardinho

Meu dissabor é com o país, que não tem prioridades

Às vésperas de sua 10ª final de Superliga, técnico critica falta de organização da Copa e dos jogos e aponta crise de valores

MARCEL MERGUIZO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Bernardinho, 54, não relaxa. É preciso convencê-lo a se sentar na quadra para conversar. Ele prefere ficar em pé, agitado, como nos jogos.

Segundo ele, nem dormir tem conseguido devido às preocupações com a seleção, com o vôlei e com o Brasil.

Por cerca de 25 minutos, sentado no piso do Maracanãzinho, no Rio, o treinador falou à Folha e criticou a falta de planejamento do Brasil na organização da Copa e das Olimpíadas, disse que o país vive uma crise de valores morais e éticos e que, no futuro, pode entrar para a política.

Muitas vezes, nem espera o fim da pergunta para começar a respondê-la. Às vésperas de sua décima final seguida de Superliga, podendo ganhar, à frente do Rio, seu nono título, contra o Sesi, no domingo, ele demonstra que suas preocupações vão além das quadras.

Folha - Você chega à décima final seguida de Superliga...
Bernardinho - Claro que quando você faz um projeto para um time de alto rendimento é para vencer. Mas o projeto iniciou há 17 anos e tem um objetivo maior: usar o voleibol como um elemento de transformação.

Vai continuar na seleção masculina e com a equipe do Rio?
Me dá tanto prazer e tanto orgulho que é difícil deixar. Só vou deixar a Unilever quando ela me deixar.

O técnico José Roberto Guimarães deixou Campinas para ficar só com a seleção feminina. Você pretende fazer o mesmo?
Passa pela cabeça. Ontem, por exemplo, estava estudando coisas de seleção, na véspera da final da Superliga. Entendo que é um problema. Por isso, tenho que ir com calma: vou conseguir transformar a seleção ou vamos perder força neste grande projeto? Vou me dedicar mais à seleção, com um pouco menos de assiduidade na Unilever.

Essa mudança vai acontecer já no meio deste ano?
Sim. Acaba aqui e vamos mergulhar pensando na Liga Mundial e no Mundial.

As denúncias de irregularidades em contratos de patrocínio contra a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) ocorreram há quase três meses. Já houve alguma mudança?
As mudanças estão acontecendo, claramente. Talvez não na velocidade que nós gostaríamos. Práticas do passado não acontecem mais.

Você disse anteriormente que ou as coisas mudavam ou você estaria fora.
Sem dúvida.

Ou seja, você não está fora.
Não. Se acredito nas pessoas, continuo. Quando disse que me senti traído, era o sentimento que se apoderou de mim. Porque fiz alertas para a gestão anterior de coisas que eu via que não estavam corretas. E não deram importância.

Você também é bem crítico ao esporte olímpico no Rio.
Sem dúvida.

Como você avalia a atual situação da cidade olímpica?
A crítica é muito mais ampla do que à cidade olímpica ou o país da Olimpíada. É um país sem prioridades, sem planejamento, onde nada é respeitado. Orçamentos e os prazos não são respeitados. Meu dissabor e minha frustração são com o país. Temos coisas sérias e importantes a criticar e tentar mudar.

Como o quê?
Primeiramente, a maior crise que a gente vive é de valores morais e éticos. Segundo, é preciso estabelecer prioridades e trabalhar por elas.
Aqui, tudo é possível. A permissividade é absoluta. A Copa está a 50 dias e temos o que temos, a Olimpíada a dois anos e é aquela história de dar um jeito depois.
Um projeto em que você tem todos os níveis de governos mais a iniciativa privada é algo que, no nosso país, é quase inadministrável. Difícil você conseguir organizar isso tudo, me preocupo com isso, mas me preocupo com o país. É um país que precisa dar uma guinada no que diz respeito ao seu futuro.

É isso que fez você entrar na política?
Tive esse convite. Nunca pensei ou imaginei. Às vezes, as pessoas buscam um salvador. Longe de eu ser salvador ou ter conhecimento político para transformar o país. Mas precisamos de pessoas do bem, que vejo por aí e que poderiam mergulhar um pouco mais nisso e transformar.
As pessoas vão se afastando. O ambiente político, hoje, não inspira as pessoas.
Não confio em rótulos, mas em pessoas. E temos que tentar dar forças para elas para termos representantes legítimos. Não sei se não tenho a coragem ou a capacidade para estar lá. Me faltou um pouco disso tudo para realmente abraçar essa história. No futuro, me preparando um pouco mais, em uma oportunidade mais adequada, poderia pensar com mais calma.

Você vai apoiar publicamente candidatos? Já está decidido?
No momento correto, vou a público dizer. Governador não tenho ainda. Vamos aguardar o que virá pelo Rio. Para presidente, vou apoiar o Aécio [Neves]. Sou um liberal, acredito que as coisas possam caminhar por aí.

Você mostrou preocupação com o vôlei, com a seleção, com a política, com a Olimpíada e a Copa. Você dorme bem?
Não.

Você dorme quantas horas?
Depende. Cinco, três. Nenhuma. Estava doente anteontem, tomei um remédio e dormi um pouco mais. Uma infecção intestinal terrível.

Quando você não dorme, qual o motivo?
Eu penso muito. Hoje, me preocupo com o futuro da minha cidade, do meu país, das minhas filhas pequenas [Júlia, 12, e Vitória, 4].

Você sonha ou tem pesadelos?
Sonho com coisas muito reais. Acordo preocupado. Misto de sonho e pensamento, desde a seleção até o convite para a política, quando fiquei em dúvida realmente. Tinha momentos de angústia na madrugada.

Leia a íntegra da entrevista
folha.com/no1445065


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