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Entrevista Pelé

Cristiano Ronaldo é o Dadá Maravilha

Maior nome da história do futebol diz que português, atual melhor do Mundo, se destaca pelos gols, mas não é tão espetacular como Messi

EDUARDO OHATA NAIEF HADDAD EDITOR DE "ESPORTE"

A perna esquerda de Pelé, 73, não é mais a mesma.

Pelé é destro, mas foi com a esquerda que o moleque de 17 anos fez o terceiro gol contra a França na semifinal da Copa de 1958, quando foi campeão mundial pela primeira vez. Pois a esquerda não é mais a mesma.

Como efeito de uma operação no quadril em 2012, o maior jogador da história do futebol manca. Desce e sobe escadas lentamente.

Mas o estorvo não é capaz de afetar seu humor e sua disposição. Entre uma viagem ao México e outra à China, Pelé concedeu uma entrevista à Folha, na última quarta (28), em São Paulo. Brincou com a idade, revelou mais admiração por Messi do que por Cristiano Ronaldo, criticou o futebol praticado no Brasil e reafirmou a confiança na seleção --mais pela qualidade da defesa do que do ataque.

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Folha - Aos 73, qual o segredo para não ter fios brancos?

Pelé -- É minha genética [risos]. Só uso um xampu que tonifica os fios e não faço mais nada. Não tem segredo.

Ainda corta o cabelo com o Didi [João Araújo], em Santos?

Sim. Já disse que está na hora de ele se aposentar. Todos estão com um corte de cabelo diferente e o meu topete continua igual.

Se o Brasil não for campeão nesta Copa, a comoção será maior do que quando seu pai chorou ouvindo pelo rádio a final de 1950?

Acho que vai ser maior porque a comunicação é maior. Aquela frustração de 50 foi para quem ouviu o rádio, mas muita gente soube um mês depois. Agora o impacto é direto. E este é um torneio que não dá para falar que está ganho. É bem nivelado e temos de nos preparar para tudo.

Que imagem o Brasil está passando para fora?

Felizmente o futebol encobre tudo. Alguns repórteres, especialmente nas minhas últimas viagens, me perguntam se pode ter problema por causa da violência. Mas de uma maneira geral o os problemas políticos são abafados [com o futebol].

Sobre os protestos, inicialmente o senhor...

Olha, se me chamar de senhor vai sair da sala [risos].

Você foi contra os protestos dizendo que não estavam sendo feitos no momento certo. Alguns meses depois, disse apoiá-los desde que preservassem a seleção. Mudou de opinião?

Não. Houve um mal-entendido. Na época que começaram os protestos, disse que os jogadores não tinham nada a ver com a política, com a corrupção. Se teve corrupção na construção dos estádios, o que a seleção tem a ver com isso? Falei que deveríamos separar as coisas e muitos não gostaram. Mas mesmo se não tivesse a Copa, quebrar estádio, pôr fogo em ônibus, quem vai pagar depois?

A reivindicação tem de ser no voto.

Em quem vai votar?

Não defini ainda.

O que achou da decisão do Ronaldo de anunciar apoio ao Aécio Neves?

[Pausa] É um país democrático, cada um faz o que acha melhor. Eu respeito.

Esse clima eleitoral prejudica?

Claro! Prejudica a seleção, prejudica o país. Antes da final da Copa das Confederações, não tinham vaiado a seleção, não tinham jogado bonecos nos jogadores? A gente sabe que tem um pouco de envolvimento político. O torcedor, que ama o futebol, não faz isso.

O que espera na Copa?

Estou confiante. Já disse que tivemos uma inversão de valores nessa Copa. A seleção tem uma defesa organizada, com dois jogadores em cada posição. É uma das melhores. Ao contrário do que sempre aconteceu. Antes, os atacantes é que se destacavam.

Conversei com o Parreira por telefone. Ele e o Felipão estão com dificuldade para armar o ataque da seleção. Não acho justo botar essa responsabilidade toda no Neymar. Será a primeira Copa do Mundo dele.

Há algum jogador da seleção em quem confia mais?

Gosto do Thiago Silva, ele está bem. E claro, o Neymar. Ele é cria nossa, tem que cuidar bem do filho, né?

Alguma outra seleção chama a sua atenção?

Vi vários jogos da Alemanha, é uma candidata forte. É claro que a Espanha, uma seleção montada há cinco anos, pode trazer problemas.

Claro que jogar com a Argentina não é moleza. Mas acho que o Brasil está tranquilo para chegar às finais.

Arrisca uma final?

Não arrisco, mas pela minha história e pela história do meu pai, eu queria que caísse Brasil e Uruguai. Seria uma boa revanche [risos].

O que o Felipão pode fazer de diferente da Copa das Confederações para surpreender?

É difícil surpreender. Vai depender muito da individualidade dos jogadores. Uma coisa excelente que o Felipão e o Parreira fizeram foi determinar o time com cinco meses de antecedência. Infelizmente, com o Mano Menezes, passamos dois anos com experiências e não tinha um time organizado.

Teremos na Copa Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar. Se eles jogassem na sua época, seriam tão excepcionais como hoje?

O Cristiano é um jogador que finaliza. Ele é o Ronaldo, ele é até o Dadá Maravilha. Mas hoje não tem com quem comparar o Cristiano Ronaldo, entende? Se fosse há quatro ou cinco anos, seria difícil ele ser apontado como melhor jogador porque a disputa seria mais forte. Já o Messi, tecnicamente, joga mais. Faz gols, arma, joga no meio.

Ainda falando sobre os astros, Cristiano Ronaldo, Messi...

Olha só como são as coisas. Você disse: Falando sobre os astros... o Messi,... o Cristiano Ronaldo...' [Neste momento, ressalta as pausas entre uma citação e outra].

É você tentando listar os astros. Há uns anos, listaria Falcão, Zico, Pelé, Didi, Vavá, Rivellino. Veja quantos nomes eu falei em alguns segundos. Hoje é difícil listar os craques.

Isso indica uma decadência do futebol?

Nivelou por baixo.

Por quê?

Falando de Brasil, talvez pela falta de condições dos clubes brasileiros para manter os jogadores por aqui. Veja que os quatro mais jovens da seleção atuam fora. Em 1970, tinha Pelé, camisa 10 do Santos, Rivellino, 10 do Corinthians, Tostão, 10 do Cruzeiro, e Gérson, que não lembro se estava no Botafogo [estava, na verdade, no São Paulo]. Tinha quatro craques para a mesma posição e todos jogavam no Brasil. Procura um aqui hoje.

Outra coisa. Não há mais identidade, os clubes não têm mais ídolos. Qual ídolo do Atlético-MG? O Ronaldinho, que é o mais velho. E jovens? Pergunta se alguém sabe qual é o ataque do Flamengo. Está nivelado por baixo mesmo.

Qual foi a maior emoção que teve como jogador?

Não dá para dizer que a Copa de 58 foi mais ou menos emocionante que a de 70. Como promoção do país, 58 foi melhor. Quando cheguei à Suécia, ninguém sabia o que era o Brasil. Foi aquela Copa que tornou o Brasil conhecido mundialmente. Agora, em termos de responsabilidade, a de 1970 foi mais complicada. Eu já era experiente e todos achavam que a gente tinha de ganhar.

Aos 73 anos, sente falta de algo na sua carreira?

Tem muitas coisas que gostaria de ter feito. Agora há algo que me orgulha muito. Foi quando o Henry Kissinger [secretário de Estado dos EUA] veio ao Brasil com o interesse de promover o futebol nos EUA. Foi a primeira vez que o governo dos EUA pediu algo ao Brasil [risos]. Fui ao Cosmos e hoje o futebol lá é uma realidade.

Alguns contemporâneos seus morreram recentemente. O Pelé é eterno. O Edson pensa na morte?

O Edson é quem cuida do Pelé [risos]. Então, sempre está com saúde [risos]. Mas [pensar na morte] é normal. Infelizmente, perdi alguns amigos, como o Jair Rodrigues. Fizemos até músicas juntos. O Luciano do Valle também. [A morte] Está chegando muito perto dos amigos. É uma coisa para a qual tem de estar preparado.

Antes da entrevista, você brincou que nessa Copa não vai dar para jogar, mas que na próxima...

Quando fizer cem anos, vou jogar 90 minutos no Maracanã [risos].


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