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2 lados da vila

Circuito 'pipoca' domina a Aspicuelta, enquanto clima 'família' toma conta da Harmonia

ROBERTO DE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

O bairro oficial da Copa em São Paulo sofreu um racha durante a partida desesperada do Brasil contra o Chile. E essa divisão não se deu entre brasileiros e chilenos, mas, sim, entre os próprios paulistanos. Na verdadeira micareta em que se transformaram as ruas da Vila Madalena, a região da rua Aspicuelta era o circuito dos "pipocas", enquanto que nas imediações da Harmonia imperava um clima "família de camarote".

"Se você quer caçar, tem que descer um bocadinho mais", avisou Aidêe Bertoche, 51. "A muvuca fica logo embaixo." A esteticista curtia um samba em frente aos bares da Harmonia. Vestia uma camisa amarela, com rasgos milimetricamente calculados na horizontal, que realçavam os 225 ml de silicone em cada seio, e calças brancas. Uma bandeirinha do Brasil, nova em folha, adornava o pescoço. Nos cabelos, tranças verde-amarelas. "Aqui é o lugar do pessoal diferenciado. Educado, sabe?" Ao seu lado, a funcionária pública Andréa Paixão, 37, engrossava o coro: "É um público maduro. Não tem aquela molecada lá de baixo, onde não existem limites e muito menos moderação".

De fato, o clima naquela região da Vila Madalena era bem mais sossegado se comparado com a "parte de baixo". Tinha até crianças circulando. Mais: os torcedores do "lado de cima" mantêm um bloco carnavalesco, o Volta Amélia, criado para animar as festas nos jogos do Brasil.

Uma de suas idealizadoras, a empresária Amélia Carrijo, 35, foi logo avisando: "Coloca aí que o bloco é estático. A gente não desce. Aqui é tranquilo, com o pessoal do bairro. Lá em baixo é a muvuca".

Márcia Afonso, 45, administradora de empresas, comparou: "[Na Aspicuelta] é como se fosse o Carnaval de Salvador. Muita molecada e mistureba. Aqui, não. É família. Uma festa entre amigos".

Na vizinhança, o bar Alto da Harmonia agrupava cerca de 350 pessoas, que pagaram de R$ 50 (entrada) a R$ 100 (consumíveis) para ver Brasil e Chile num telão, mas "com ar-condicionado e, principalmente, gente bonita", como frisou uma empresária, que chegou de motorista e não quis papo com a reportagem.

MAIS EMBAIXO

Cinco quadras dali, no cruzamento entre as ruas Fradique Coutinho e Aspicuelta, a fisioterapeuta Juliana Lucco, 27, acompanhava o jogo pelo celular. "Minha mãe me manda mensagens sobre a partida. Daqui, não vejo nada", disse, ao desviar o olhar de um garoto que gritava: "Loira provocante, vamos tomar um refrigerante". Ao ouvir, ela sorriu. "Isso é festa. Tem homem, alegria. Lá em cima, tudo é muito comportado."

De shorts verde-bandeira e regata preta, cravejada de estrelinhas brancas, a coordenadora financeira Priscila de Castro, 24, veio de Diadema assistir à partida na Vila Madalena. "Ver é modo de a gente falar. Não tenho a menor ideia do que esteja acontecendo em campo", disse. "Assistindo ou não, o resultado vai ser o mesmo: festa!"

Priscila "pegou", palavras dela, um croata no jogo de abertura do Mundial. "O que vier é lucro. Sem limites para amar ou curtir. O povo lá de cima deveria descer para sentir como isso aqui é bom."


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