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Campo dos sonhos

Vilarejo no ABC paulista reivindica ter o primeiro campo de futebol planejado do país, projetado no século 19

NATÁLIA CANCIAN ENVIADA ESPECIAL A PARANAPIACABA

Um simples campinho, repleto de buracos e escondido num vilarejo no meio da serra do Mar possui um mistério: seria o primeiro campo de futebol planejado do país?

Moradores da vila ferroviária de Paranapiacaba, na zona rural de Santo André (ABC paulista), dizem que sim.

Segundo Eduardo Pin, presidente de uma associação local de monitores ambientais, data de 1895 o projeto do campo, feito por ingleses da São Paulo Railway Company.

Ou seja, pouquíssimo tempo depois de o futebol chegar ao Brasil, segundo versão ligada a Charles Miller, a quem é atribuído o primeiro jogo na capital paulista, em 1895.

O secretário de gestão de Paranapiacaba na Prefeitura de Santo André, Ricardo Di Giorgio, aponta mais evidências. "Temos planta de Paranapiacaba da década de 1890 em que já aparece o desenho do campo. E o período de construção da vila [1860] é o mesmo da criação das regras do futebol na Inglaterra."

O problema é saber quando o campo saiu do papel.

"Temos o projeto, mas não pesquisas de quando foi executado", afirma o presidente da associação local.

Relatos de antigos moradores da vila, hoje tombada como patrimônio histórico, indicam que partidas já ocorriam no início do século 20.

Prova disso, dizem por lá, é que o primeiro clube de futebol da vila, o Serrano Athletic Club, começou em 1903.

Era o Serrano quem reunia, nos momentos de lazer, os operários que vieram trabalhar na construção da primeira ferrovia paulista, segundo o atual presidente do clube, Antônio Fernandes, 60.

O problema era driblar algumas características do clima local, como a neblina que se espalha por toda a vila, inclusive pelo campo, especialmente no fim da tarde.

"O campinho era uma coisa linda, bem cuidado. Na neblina, time de fora sempre perdia. Punham a bola embaixo do braço e corriam pro gol. São as histórias que nos contavam", afirma Antônio.

"O inglês, como gostava de futebol, dava até passagem para o pessoal vir jogar", relata o ex-ferroviário Benedito Oliveira Souza, 80, o Ditão, que jogou no Serrano por 25 anos. "Aos domingos, vinha time de fora", completa.

Pioneiro ou não, a Prefeitura de Santo André e órgãos de patrimônio tentam recuperar o antigo campo. Segundo a administração, ele será o primeiro de um pacote de obras que prevê o investimento de R$ 42,2 milhões para o restauro da vila. A previsão é que as obras, integrantes do PAC Cidades Históricas, comecem no próximo semestre.

Para explicar o estado do campo, a população tem duas versões. Uma foi a montagem de um palco há alguns anos que estragou o local.

Outra remete aos anos 1980, quando o sistema funicular e os trens pararam. "Os antigos foram embora, tudo acabou. Esporte não tem mais. Os trens e o futebol eram o que nos alegrava", diz o ex-jogador Ditão.


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