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Prova de risco

Cadeirantes e outros deficientes físicos temem novo percurso da São Silvestre, com mais descidas; organização prevê prova mais lenta

Ricardo Nogueira/Folhapress
O cadeirante Fernando Aranha desce a Major Natanael, que faz parte do trajeto da São Silvestre-11
O cadeirante Fernando Aranha desce a Major Natanael, que faz parte do trajeto da São Silvestre-11

ADRIANO WILKSON
LUCAS REIS
RAFAEL REIS
de são paulo

A organização da São Silvestre prevê que o tempo da prova caia alguns segundos com o novo percurso. Mas, para os cadeirantes, que largam mais cedo, às 15h, a estimativa é que a corrida seja concluída três minutos mais tarde. O motivo: segurança.

A prova com mais descidas, e mais íngremes, faz os atletas com deficiência física, que correm com cadeiras de rodas especiais, temerem acidentes no trajeto inédito.

"A mudança foi para pior, muito pior. Tem muito atleta que vai aumentar o tempo, inclusive eu. O que me preocupa de verdade é o percurso em si", declarou Fernando Aranha, 33, que é pentacampeão da categoria.

Os próprios atletas explicam. Por exemplo, na Consolação, uma velha conhecida deles, era possível alcançar 70 km/h. O perigo agora é a Brigadeiro Luís Antônio.

"Foram introduzidas novas descidas, mais íngremes, curvas fechadas, estreitas. O risco para as rodas é grande. Perde-se a questão do esporte de alto rendimento e preocupa-se com a segurança", afirmou Aranha.

"Um simples olho-de-gato na pista pode causar graves acidentes", completou.

A organização diz que os três minutos adicionais previstos foram calculados justamente por levar em conta um cuidado maior dos cadeirantes no traçado novo.

"Achamos que eles não vão descer tão rapidamente, pois, como é a primeira vez, vão sempre com mais cautela. Isso é salutar se você não conhece o percurso", declarou Manuel Garcia Arroyo, diretor técnico da prova.

Em 2010, apenas quatro cadeirantes concluíram a corrida -a Folha solicitou o número de inscritos naquele ano e em 2011, mas não obteve resposta. Minutos após os cadeirantes, largam outros paratletas: amputados, deficientes auditivos, visuais e intelectuais também correm.

Para todos, a preocupação com segurança é a mesma.

"Estamos no escuro. Para todos os deficientes é preciso grande coordenação motora, para evitar quedas. Se é perigoso para os atletas comuns, é mais arriscado ainda para os deficientes", afirma Eduardo Leonel, coordenador da modalidade PCD (Pessoas com Deficiência) da Fundação Pró-Esporte, de Santos, que terá quatro competidores na corrida de amanhã.

"Participei de uma prova em Miami e, lá, os bueiros, lombadas, bocas-de-lobo e outros obstáculos eram pintados de laranja. Aqui, se a gente não ficar atento, pode até capotar", contou Jaciel Paulino, 38, que disputará sua sexta edição da corrida entre os cadeirantes.

"Agora temos a rua Major Natanael [perto do Pacaembu], que é muito curta e inclinada. No fim, [há] até olhos-

-de-gato da pista. Isso pode fazer você tombar e se machucar", contou Aranha, paraplégico em decorrência de uma poliomielite que atingiu suas pernas quando era criança. No colégio, ele passou a praticar esporte.

Segundo estimativa de Arroyo, mais de 300 paratletas devem participar da São Silvestre -as inscrições são gratuitas. De acordo com o diretor da prova, desde 1988, a organização do evento abriu espaço para os deficientes.

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