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Opinião

A favor de Dunga, que tem tudo para dar conta do recado

MARCELO PARADA ESPECIAL PARA A FOLHA

Pego-me na contramão, na solitária defesa de Dunga como novo técnico da seleção. Qual teria sido seu pecado para despertar a rejeição in limine' por parte da crítica especializada? Especulo que a bronca não vem de hoje.

Na sua primeira indicação, logo após o fracasso canarinho na Alemanha-2006, ele foi recepcionado tal qual um intruso, tratado pela imprensa do eixo Rio-São Paulo como uma mistura de jeca e brucutu, longe da tradição do futebol alegre, maroto, moleque, arte ou qualquer outro adjetivo do gosto da crônica.

Aos fatos: Dunga é dono de uma sólida carreira como jogador. Foi campeão por onde passou, seja no Brasil, Itália, Alemanha ou Japão. Envergou a amarelinha em três Copas, foi campeão em uma e vice-campeão em outra, além de uma medalha de prata no futebol olímpico. Convenhamos que não é pouco.

Ao contrário do que pode fazer supor seu jeito reservado, quase introspectivo, tem interlocutores de ponta no mundo do futebol em todos os centros avançados. Sim, pasmem, vários técnicos campeões em outros países admiram Dunga.

Mas, no Brasil, a força de uma expressão mostrou-se mais forte do que o currículo do técnico da seleção. A tal "era Dunga" veio para reduzir toda sua trajetória profissional a de um bronco incapaz de encantar as multidões.

E, assim, o capitão na Copa de 94 virou quase culpado por ganhar a taça depois de 24 anos. "Ganhamos, mas jogamos feio" é o que se escuta até hoje. Bom era o time do Telê, que perdeu em 82, mas colocou as "poderosas" Escócia e Nova Zelândia na roda. Essa discussão, reconheço, é batalha perdida.

Como técnico da seleção, Dunga ganhou 76% dos jogos. Venceu a Copa América e a Copa das Confederações, além de comandar o time nas eliminatórias, em campanha primorosa, e ficar com a medalha olímpica de bronze.

Foi assim que Dunga, recepcionado como "temporário" em 2006 recrutou forças para chegar firme à África do Sul, em 2010. Seus adversários engoliram em seco, aguentaram firme e esperaram o tropeço. Depois da derrota para a Holanda, ele passou a ser culpado de todos os males do esporte bretão.

Conheci Dunga em 2002, quando o contratei para comentar a Copa da Coreia e Japão para a Rádio Bandeirantes. Na Copa seguinte, não esqueço um jantar noite adentro em Munique, em que praticamente só Dunga falou.

Solto, irônico, inteligente, dono de excelentes sacadas, mostrou um pouco de sua imensa bagagem no futebol. No trabalho, sempre sério, compenetrado e exigente.

Depois do vexame na última Copa, tornou-se urgente uma revisão geral na estrutura do futebol brasileiro. Decididamente, a dupla Del Nero/Marin não parece à altura da tarefa de arejar e jogar luz sobre cantos escuros de uma edificação corroída, cuja entidade máxima nada em dinheiro enquanto a realidade de boa parte dos jogadores é de salários atrasados.

Existe um imperativo, porém. A seleção brasileira de futebol, centenária e gloriosa, vai continuar existindo, jogando, competindo e, Deus queira, ganhando títulos. Com ou sem Marin e Del Nero, alguém precisa ser o técnico. Porque não dar nova oportunidade a Dunga? Mais maduro e desarmado, como destacou o craque Paulo Vinícius Coelho, ele tem tudo para dar conta do recado.


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