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Xico Sá

Nem o Dunga é

Se é para ser o Dunga, que seja o enfezado, o teimoso, o inexperiente, o bravo, o homem, a lenda e o desastre

Amigo torcedor, amigo secador, o pior não é que agora é o Dunga, o pior é que nem é mais o Dunga. Teremos apenas um falso Dunga, um sub-Dunga, o Dunga do paz e amor, o Dunga negociador, o Dunga homem cordial brasileiro, que se faz de bonzinho sem de fato sê-lo, o Dunga que afaga e não apedreja, que sorri amarelo para a Globo feito o Chicó de Ariano Suassuna, o Dunga que havia tretado com o império, etc.

Não que seja lindo brigar com todo mundo ao mesmo tempo agora, mas é sim interessante quebrar, mesmo da pior maneira possível, a narrativa submissa à emissora sócia do negócio ludopédico brasileiro. Digo, é lindo, desacostumar os bem-acostumados, assim no futiba como na vida.

É lindo, repito, o sagrado direito ao contraditório. Esse cronista mesmo presta serviços à casa global, como presta e não presta a tantas outras da dita imprensa burguesa, mas que bonito é um mínimo barraco, fazer o Nenzim do jegue e empacar contra as obviedades, as autoridades dessa nossa grande Sucupira.

Carecemos de um caldo de sururu das contradições, uma intriga mínima que nos traria avanços. Óbvio que essa é a visão de quem não espera nada do futebol oficial da CBF. Espera, digo, espero sim, como escritor, pelo menos uma rede de intrigas.

Nem isso. Que tédio! E eis que daí, desconstrói-se o macho, desdunga-se, e daí desfaz o único traço da personalidade interessante no personagem, joga fora o que havia em si daquele faroeste "Meu ódio será sua herança" (1969), clássico do gênio-mor da morte lenta Sam Peckinpah, que cineasta monstruoso e obrigatório.

Então o que sobrou do Dunga? Se nem aquele mínimo denominador comum do Dunga ele é mais? Se é para ser o Dunga, que seja o enfezado, o teimoso, o inexperiente, o bravo, o técnico do Inter que esmurrava o vento em vexatórias derrotas no interior gaúcho, o valente e às vezes incompreensível dos Pampas, o homem, a lenda e o desastre.

Nada disso. Agora ele se arvora até a se achar um estudioso de táticas europeias, vê se pode. Ah, vá, é o que faltava. Fui enganado. O bom do Dunga era a ideia de braveza, não o que finge conhecer a pedagogia da anti-manha da Alemanha. Mais Ijuí, seu Dunga, e menos escola de Frankfurt. Mais carrinho na placa de patrocínio e menos agá midiático.

Que seja o melhor dos Dungas possíveis, que é o que bem conhecemos. Que seja pelo menos o Dunga representado em campo pelo Felipe Melo na melancólica derrota para a Holanda, uma espécie de antepasto, tira-gosto, entrada, couvert artístico para a insuperável, inesquecível, implacável 7 a 1, a tragédia, o dia em que a Alemanha fez um eisbein à pururuca no Mineirazo.

Por que um 7 a 1 não é obra de um jogo. É coisa de uma construção. Começamos a levar alguns gols desse cabalístico sete bem antes. Ninguém se desmoraliza em 90 e poucos minutos. Toda humilhação é construída, tijolo por tijolo, com a argamassa da desmoralização que vem de muito antes.

@xicosa


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