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Xico Sá

Caixa de ódio

Em vez de gastar toda essa energia para mudar, a turma prefere o preconceito e a intolerância

Amigo torcedor, amigo secador, o futebol, como no título de uma canção do gremista Lupicínio Rodrigues, virou uma "caixa de ódio". Deprimente e constrangedor o espetáculo da torcida do tricolor gaúcho na volta de Aranha a Porto Alegre. Parecia referendar tudo o que ocorreu no jogo anterior, quando foi cometido o crime de injúria racial contra o goleiro do Santos. Parecia que nada havia acontecido de grave.

Um cartaz de um senhor fanfarrão dizia, sem a menor cerimônia, que o jogador do Alvinegro havia encenado tudo, como se o país todo não tivesse testemunhado, pela TV, as manifestações racistas. Esse clubismo cego me dá um tremendo bode do mundo futebolístico.

Como disse o próprio Aranha, sempre comedido e longe de tirar proveito do episódio, foi triste, muito triste. Ninguém seria ingênuo ao ponto de esperar uma civilizada claque de aplausos no regresso do número 1 do Peixe à Arena do Grêmio. A vaia faz parte do espetáculo. A deste reencontro, porém, parecia aprovar o crime do jogo pela Copa do Brasil. Repito: deprimente, constrangedor.

É, meu caríssimo e centenário Lupicínio, a "caixa de ódio" --título do concerto genial de Arrigo Barnabé-- reverbera no futebol. E não somente no caso do Aranha. Repare que triste notícia em terras paulistanas: a direção da Arena Corinthians vai retirar parte das cadeiras do estádio sob o temor de quebra-quebra por parte da torcida do São Paulo no próximo domingo.

O mata-mata entre os fanáticos nem se fala. E aí vale para quase todos os clubes e os doentes do clubismo. Como se esse futebol valesse uma vida.

Só mesmo cantando os belos versos de Lupicínio: "Fazer do meu peito uma caixa de ódio / Como um coração que não quer perdoar." A letra do grande gremista, obviamente, tratava de uma "dor de cotovelo", sua marca de romantismo na música brasileira.

Antes de Grêmio 0x0 Santos, uma banda homenageou o velho Lupi, autor do hino mais bonito dos times brasileiros. Achei que o espírito do boêmio contagiaria os torcedores do Tricolor do Rio Grande do Sul. Nada. Aranha enfrentou novamente o som e a fúria da intolerância.

VERGONHA

O grande personagem do Brasileirão até o momento é o destemido Emerson Sheik, do rebelde Botafogo do prezado amigo Afonsinho. Não é de hoje que Sheik desafia o coro dos contentes e enfrenta a guarda. Histórico o momento em que se dirigiu às câmeras e fez o discurso político mais importante deste ano eleitoral: "CBF, você é uma vergonha."

A frase vale além do varejão dos erros de arbitragem, embora tenha sido pronunciada no calor deste motivo. Vale pré e pós 7 x 1, vale pelo conjunto da obra. Vale pelo que temos (Marin) e pelo que teremos (Del Nero) na CBF.

Que vire lema nos estádios. Seria lindo que toda essa energia fosse gasta para derrubar estes senhores que tanto nos envergonham. Só que não, como diz irônica negativa usada nas redes sociais. A turma prefere o preconceito e a intolerância.

@xicosa


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