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Noivo sparring

Antes de conquistar a prata no Mundial de luta olímpica, Aline Silva passou fome, superou doenças e fez bicos; hoje, sem adversárias no Brasil, treina com o futuro marido

PAULO ROBERTO CONDE MARCEL MERGUIZO DE SÃO PAULO

Ela é atleta profissional. Ele, o noivo que luta diariamente com uma vice-campeã mundial. Mas até chegar o dia em que Aline Silva, 27, passou a carregar Flavio Ramos, 30, literalmente nos ombros foram anos de luta diária para se manter no esporte.

Aline conquistou a medalha de prata no Mundial de luta olímpica, no Uzbequistão, no último dia 11. Foi, por enquanto, o auge de uma carreira que começou a despontar em 2006, quando ela foi prata no Mundial júnior.

Sem rivais à altura no Brasil, seja no quesito peso ou no de força, Aline precisou de ajuda doméstica para se manter em alto nível.

No início deste ano, ela e Flavio, estudante de educação física com quem vai se casar no dia 6 de dezembro, decidiram que ele seria o sparring nos treinamentos.

"Tem época em que a gente sai na porrada mesmo, depende do treino. Tem dia que puxo mais, outros em que é de boa. Mas me dedico só a ela", diz Flavio, que deixou o emprego em uma rede de restaurantes para treiná-la.

Na luta olímpica, sobre o tapete, eles se agarram, abraçam, empurram. E o fato de ele ter 88 kg e ela ser da categoria até 75 kg é uma vantagem para encarar as adversárias de todo o mundo.

O casal se conheceu há 13 anos. Ambos treinavam judô no Centro Olímpico, no Ibirapuera, em São Paulo. Reencontraram-se em 2009, quando ela foi "resgatada" por um projeto do Sesi, também na na capital paulista.

Hoje, Aline é contratada com carteira assinada (CLT) por seu clube, recebe salário de 3º sargento da Marinha, ganha a Bolsa Pódio do governo federal e está para concluir a sua segunda faculdade --é graduada em estética e cursa educação física.

No entanto, a luta para chegar ao atual momento foi muito além dos ginásios. E muito pouco gloriosa.

Logo depois do vice-campeonato mundial júnior em 2006, Aline mudou-se de São Paulo para Curitiba, seduzida por uma proposta.

FOME

A aventura provou-se malfadada. As promessas feitas não se confirmaram e ela se viu, rapidamente, desmotivada e em dificuldades financeiras. Recorreu aos bicos.

Então com menos de 20 anos, trabalhou como segurança em casa noturna, em lava-rápido, entregou panfleto e vendeu doce. Aguentou o quanto pôde para não deixar a mãe, Lidia, aflita em São Paulo. "Eu tinha que passar a noite acordada na balada e depois ir treinar", contou. "Cheguei a passar fome."

A agrura foi tanta que, devido à má alimentação, Aline teve amenorreia secundária (ficou sem menstruar por pelo menos três meses).

"Eu cheguei a lutar uma seletiva assim. Foi horrível. Mas não tinha o que fazer. Minha alimentação era ruim, eu só comia nuggets, coisa assim."

No meio tempo, recebeu um diagnóstico de que tinha disfunção na tireoide e sofreu uma lesão nas costas. "Foi tanto problema que comecei ter taquicardia. Achava que já não era mais para mim."

REVIRAVOLTA

Como também era praticante do jiu-jitsu, flertou com uma troca de arte marcial. Quando estava para se definir, recebeu oferta do Sesi-SP.

"Foi o que me salvou."

A outra salvação dela, claro, foi a chegada do noivo. Treinando juntos desde o início deste ano, eles foram prata no Mundial e ouro no importante Grand Prix de Paris.

"Na medalha olímpica, eu já pensava antes do Mundial. Agora tenho um ânimo a mais para conquistá-la", disse.

No início do mês que vem, ela tem outro pódio na mira. Disputará o Mundial militar, em Nova Jersey, nos EUA.


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