10 anos em 1
Aos 34 anos, o goleiro Fábio acumula uma década como goleiro titular do Cruzeiro, que pode conquistar o bicampeonato brasileiro hoje em Belo Horizonte
Fábio tinha 19 anos, com passagem de sucesso pelas seleções de base e dois anos como profissional no futebol paranaense, quando foi testado como titular do Cruzeiro em amistoso ante o Universal (RJ), em março de 2000.
Depois de quase 15 anos e 602 jogos com a camisa azul, o camisa 1 tem no domingo (23) a chance de ser o primeiro capitão bicampeão brasileiro pelo clube mineiro.
O Cruzeiro conta com grandes chances de celebrar pelo segundo ano consecutivo o título, desta vez com duas rodadas de antecipação, se derrotar o Goiás, no Mineirão (os ingressos já estão esgotados). A taça também será sua mesmo que tropece se o São Paulo não derrotar o Santos.
A conquista será especial para o arqueiro de 34 anos. Fábio pode não ser o jogador mais badalado ou mais carismático da equipe. Mas é, de longe, o mais identificado com o lado azul de BH.
Em janeiro, fará dez anos consecutivos com a camisa 1 cruzeirense. Entre os jogadores da primeira divisão do Brasileiro, só Rogério Ceni, 41, é titular do mesmo time há mais tempo (desde 1997).
Mas o são-paulino, a menos que reformule sua decisão, deve se aposentar no fim da temporada. Já o mato-grossense de Nobres (cidade de cerca de 15 mil habitantes) planeja jogar pelo menos até abril de 2016, quando termina seu contrato.
Tempo para se tornar o jogador que mais atuou pelo Cruzeiro em todos os tempos.
Já superou lendas do clube como Tostão, Piazza e Raul Plassmann. Com 603 jogos, está atrás apenas de Zé Carlos (633) e Dirceu Lopes (610).
"Quero de coração que ele nos ultrapasse. Ele até riu quando eu lhe disse isso. Estamos carentes de ídolos de boa conduta no futebol atual e ele é assim. O ponto forte do Cruzeiro é o ambiente. E o Fábio é o líder desse time", afirmou Dirceu Lopes, ídolo nos anos 1960 e 1970.
"O Cruzeiro tem tradição de grandes goleiros que ficaram muitos anos no clube. O Fábio é excepcional. Se você pensa em ser campeão, tem de ter um goleiro assim", disse Raul Plassmann, arqueiro cruzeirense entre 1965 e 1978.
Apesar de ser unanimidade hoje, o goleiro nem sempre teve vida fácil na Toca da Raposa. Após passagem por empréstimo entre 1999 e 2000, voltou ao Cruzeiro em 2005 marcado como jogador que havia abandonado seu antigo time --rompeu com o Vasco na Justiça e chegou a ficar quatro meses parado.
Em Belo Horizonte, cometeu falhas históricas. A principal aconteceu em um clássico contra o Atlético-MG, no Estadual de 2007, ao sofrer gol quando estava de costas para o lance, andando cabisbaixo de volta para a meta.
"Quem se recupera de um trauma como esse é porque tem muito caráter. Pena que sempre foi injustiçado na seleção", diz Dirceu Lopes.
Apesar de ter sido eleito duas vezes o melhor goleiro do Brasileiro, Fábio teve poucas chances na equipe nacional. Foi reserva na Copa das Confederações de 2003 e na Copa América de 2004. Também teve algumas poucas oportunidades em amistosos (sempre no banco) com Mano Menezes em 2011. E só.
De personalidade forte e um constante discurso religioso, ele sempre afirmou não entender a falta de oportunidades. "Devo ser um cara polêmico, que briga com os companheiros e não fica muito tempo nos clubes. É por isso que não sou convocado", ironizou, em 2012.
Hoje, prestes a ser bicampeão, contenta-se em ser cruzeirense. Não qualquer cruzeirense --Fábio já está entre os grandes.