Nunca na história
Pela 1ª vez na era do profissionalismo, grandes de São Paulo vão terminar um ano sem conquistar título; especialistas criticam falta de planejamento
Pela primeira vez desde a implantação do futebol profissional em São Paulo, todos os quatro grandes clubes do Estado vão encerrar um ano sem faturar nenhum título.
A derrota nos pênaltis do São Paulo para o Atlético Nacional (COL), na quarta-feira (26), nas semifinais da Sul-Americana, acabou com a última oportunidade de taça de um gigante paulista em 2014.
Corinthians, Palmeiras e Santos já não tinham mais chance de conquistar nada.
Desde 1933, dois anos antes da fundação do São Paulo, todas as temporadas tiveram pelo menos um título conquistado por um integrante do quarteto paulista.
Nos anos em que os quatro falharam no Estadual (1986, 1990 e 2004), pelo menos um deles ganhou o Brasileiro.
Mas, agora, não. O Santos perdeu a decisão do Paulista para o Ituano. O Palmeiras luta contra o rebaixamento no Brasileiro. O São Paulo pode ser vice da Série A, enquanto o Corinthians ainda tenta faturar vaga na Libertadores.
O continental de 2014 nem teve presença paulista pela primeira vez desde 1998.
"Erramos ao pensar que quem fatura mais vai conseguir melhores resultados. O que define o sucesso ou o fracasso é a gestão, é saber equilibrar dinheiro e eficiência", disse o consultor de marketing esportivo Amir Somoggi.
São Paulo (R$ 364,7 milhões) e Corinthians (R$ 316 milhões) foram os dois clubes que mais arrecadaram no Brasil no ano passado.
"E o Cruzeiro [R$ 187,9 milhões], com metade do faturamento deles, e receita equivalente à do Palmeiras [R$ 181,2 milhões], que está ameaçado pelo rebaixamento, é o atual bicampeão brasileiro", comentou Somoggi.
Segundo sua avaliação, os paulista gastam muito em negócios ruins--Leandro Damião, atacante contratado pelo Santos no início do ano e autor de nove gols em 47 jogos, custou R$ 42 milhões.
A comparação com os mineiros também foi usada pelo técnico do São Paulo, Muricy Ramalho, para explicar por que os paulistas caíram.
"Não existe varinha mágica. O que tem de existir são profissionais sérios. Atlético-MG [campeão da Copa do Brasil] e Cruzeiro, que hoje estão na nossa frente, têm filosofia de manter o trabalho a longo prazo e isso dá resultado."
Palmeiras e Santos são os times com elencos mais inchados do Brasileiro (42 e 36 atletas, respectivamente), enquanto São Paulo e Corinthians reformularam suas equipes durante o ano.
"Antes, todos os jogadores desejavam jogar em clubes de São Paulo e Rio de Janeiro. Hoje, descobriram que podem ser feliz em Minas e no Rio Grande do Sul", declarou o ex-goleiro e técnico Emerson Leão, que trabalhou nos quatro grandes do Estado.
VIDA NOVA?
"A perspectiva é que os quatro clubes fechem o ano com as contas no vermelho."
A previsão feita por Somoggi mostra que 2015 também não deve ser um ano de vida fácil para os paulistas.
Palmeiras, Santos e Corinthians têm eleições marcadas para os próximos três meses e devem trocar de técnico em 2015. Os planejamentos também ainda estão abertos e dependem das urnas.
No Palmeiras, a indefinição passa ainda pela possível queda para a Série B. No Santos, o que incomoda é o provável desmanche para melhorar o balanço financeiro.
O São Paulo já sabe que vai perder Kaká, que vai para os EUA. E o Corinthians ainda não renovou com Guerrero.