Após denúncias no vôlei, Banco do Brasil corta patrocínio de 23 anos
CRISE
Relatório aponta irregularidades na confederação, que tem suspensos R$ 70 mi anuais
O Banco do Brasil suspendeu o patrocínio ao vôlei brasileiro nesta quinta-feira (11), após relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) comprovar irregularidades na gestão de dinheiro público na Confederação Brasileira (CBV).
A auditoria foi feita pelo órgão do governo federal depois de denúncias feitas pela ESPN Brasil desde o início do ano.
O banco divulgou nota na qual diz que "suspendeu os pagamentos à CBV referentes aos contratos de patrocínio e condiciona a retomada (...) --e a continuidade do patrocínio-- à adoção imediata pela CBV de todas as medidas corretivas apontadas pela CGU".
O acordo vigente da CBV com a instituição tem duração até 30 de abril de 2017 e prevê confidencialidade.
A Folha apurou que o valor pago anualmente à confederação é de R$ 70 milhões.
O primeiro contrato entre as partes data de 1991. O mais recente foi assinado em 2012.
Em março, a CGU determinou abertura de investigação sobre contratos firmados entre a CBV e o banco de 2010 a 2013, na gestão do ex-presidente Ary Graça, hoje mandatário na Federação Internacional de Vôlei (FIVB).
A 20 meses do início dos Jogos Olímpicos do Rio, o vôlei é considerado chave para o Brasil chegar à meta de ao menos 27 medalhas e um lugar no top 10 geral. Na história, vôlei de quadra e praia têm 20 pódios olímpicos.
ULTIMATO
No relatório publicado nesta quinta, a CGU afirma que o Banco do Brasil deve adotar medidas corretivas com relação aos contratos. E traz uma novidade, que atinge diretamente o esporte dentro de quadra, ao sugerir a "readequação do instrumento do bônus de performance".
A auditoria mostrou "gerenciamento impróprio" em que houve "aumento desproporcional de despesas administrativas e operacionais em comparação com a diminuição das despesas com atletas e comissão técnica, inclusive com o bônus". Ou seja, parte do dinheiro extra que o Banco do Brasil pagou a CBV em razão de títulos não chegou a jogadores e técnicos.
No que diz respeito às denúncias de fraudes em contratos e favorecimento a pessoas estritamente ligadas à CBV, o órgão cita empresas que foram remuneradas em, no mínimo, R$ 1 milhão em 2013 para realizar atividades como organização e promoção de competições, "sendo que o custo das contratadas por elas, que efetivamente realizavam o serviço, também recaia sobre a CBV".
Uma das citadas é a S4G Gestão e Negócios, de Fábio Dias Azevedo, ex-dirigente da CBV e diretor geral da FIVB.
Outro caso foi o acordo com a empresa SMP, do ex-superintendente geral da CBV Marcos Pina, que recebeu R$ 188 mil em 2014 "a título de assessoria de gestão administrativa esportiva". A CGU diz que não consegue realizar "a averiguação de sua execução".
Ainda segundo a CGU, "boa parte das empresas analisadas emitiu notas fiscais sequenciais à CBV, evidenciando que prestavam serviços somente para própria entidade".