Empresas vão assinar pacto inédito para fiscalizar uso de verba pública
PATROCÍNIO
Por blindagem contra escândalos, empresariado vai propor regras mais rigorosas
Preocupadas com o destino de seus recursos, 16 grandes empresas públicas e privadas responsáveis por investimentos milionários nas confederações esportivas brasileiras estão prestes a assinar pacto para fiscalizar o uso das verbas e também se blindarem de escândalos.
Entre os signatários está o Banco do Brasil, que na última quinta (11) suspendeu patrocínio anual de R$ 70 milhões à CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) por irregularidades constatadas em relatório da CGU (Controladoria-Geral da União).
A iniciativa tem por objetivo estabelecer e unificar regras mais rigorosas de gestão, integridade e transparência e as impor aos órgãos esportivos que recebem dinheiro. As companhias também terão de seguir cláusulas. A supervisão ficará a cargo de uma governança a definir, mas todas se autorregularão.
O acordo setorial está em discussão final e deve ser lançado publicamente em abril.
As bases têm sido discutidas em reuniões periódicas, mas terão itens baseados na lei anticorrupção, que vigora desde janeiro. E nas alterações de 2013 na Lei Pelé, que limitaram mandatos de cartolas, determinaram regras de transparência e obrigaram maior participação de atletas em decisões das entidades.
Três encontros já ocorreram, inclusive um no início deste mês. Um outro, definitivo, está previsto para janeiro. Segundo representantes das empresas, trata-se de um pacto inédito no mundo.
Além do Banco do Brasil, aderiram instituições públicas e privadas como Ambev, Adidas, Nike, McDonald's, Correios, Itaú, Nestlé, Pão de Açúcar e P&G, entre outras.
Os investimentos no esporte de parte delas alcança, pelo menos, R$ 550 milhões por ano. A meta é aumentar o número de signatárias antes da conclusão do pacto.
A ONG Atletas pelo Brasil, o Instituto Ethos e o Lide Esporte têm ajudado a redigir o acordo e atuado como facilitador entre as companhias.
A percepção do empresariado é de que nem sempre há clareza no emprego dos repasses feitos e que, em muitos casos, a interação entre as partes é uma "caixa-preta".
"Com o pacto, a expectativa é de que juntas elas apliquem as regras e haja mais profissionalismo e gestão no esporte brasileiro", afirmou Daniela Castro, diretora-executiva da Atletas pelo Brasil.
Segundo ela, o Banco do Brasil foi uma das primeiras empresas no pacto, antes da crise com o vôlei.
De acordo com o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, José Antonio Martins Fernandes, "toda iniciativa que vise a transparência e aumento dos investimentos" é bem vista.
"A união das empresas em muito ajudará o aumento da confiança de que o investimento no esporte é um bom negócio para elas e para as confederações", diz.