A nova onda da China
Depois do boom de 2011/2012, quando contratou astros em fim de carreira, país agora gasta mais e aposta em atletas no ápice, como Ricardo Goulart e Diego Tardelli
O meia-atacante Ricardo Goulart, 23, foi um dos destaques do Cruzeiro bicampeão brasileiro e tem sido convocado por Dunga para seleção.
Seu destino poderia ser Inglaterra, Espanha, Alemanha ou qualquer outro país da elite da bola. Também poderia estar de malas prontas para Rússia, Ucrânia ou países árabes, mercados que receberam legiões de atletas ao longo da última década.
Só que Goulart preferiu atravessar meio mundo, enfrentar enorme diferença cultural e encarar o risco de cair no ostracismo. Desde a terça (13), tornou-se estrela do Guangzhou Evergrande.
A contratação mais cara da história do futebol chinês (€ 15 milhões, o equivalente a R$ 45 milhões) mostra que o maior país do mundo já tem força para brigar com centros onde o futebol é um esporte muito mais consolidado.
Outra prova desse fortalecimento é a muita provável contratação de Diego Tardelli, 29, titular da seleção, pelo Shandong Luneng.
O jogador do Atlético-MG viajou para São Paulo para selar negócio e pode ser anunciado no amistoso que o Shandong faz neste sábado (17) contra o Palmeiras.
A liga chinesa, criada apenas em 2004, já é a nona que mais dinheiro investe em contratações em todo o planeta.
Somente as duas primeiras divisões da Inglaterra e as elites de Espanha, Itália, Alemanha, França, Portugal e México gastam mais. De um ano para cá, Rússia e Ucrânia foram deixadas para trás.
O volume do investimento em reforços tem crescido exponencialmente. Cinco anos atrás, o valor gasto com transferências na temporada toda foi de € 2,7 milhões (R$ 8,2 milhões, na cotação atual).
Só a partir de julho do ano passado, os chineses gastaram € 80,6 milhões (R$ 244,4 milhões) com a chegada de novos jogadores.
A enxurrada de dinheiro, vindo principalmente de conglomerados como a gigante do comércio digital Alibaba (dona de 50% do Guangzhou Evergrande) e a maior estatal do setor elétrico do mundo, State Grid (proprietária do Shandong Luneng), mudou o perfil das contratações.
Se em 2011 e 2012, quando a liga começou a ganhar destaque, a predileção era por astros na reta final da carreira, casos do marfinense Drogba e do francês Anelka, que lhe dessem visibilidade. A China agora busca quem possa render dentro de campo.
Um exemplo é a contratação do atacante Alan, 25 (ex-Fluminense e artilheiro da Liga Europa pelo time austríaco do Red Bull Salzburg) pelo Guangzhou.
DE MURIQUI A CANNAVARO
Como se vê, os atletas brasileiros são os mais procurado pelas equipes chinesas.
Dos 66 estrangeiros da primeira divisão, que possui 16 clubes e tem o Guangzhou Evergrande como atual tetracampeão, um terço (22) é do país pentacampeão mundial.
O artilheiro e melhor jogador da última temporada, Elkeson (ex-Botafogo e atualmente no Guangzhou Evergrande) é brasileiro.
Há ainda Vágner Love e Aloísio (Shandong Luneng), Paulo André (Shangai Shenhua) e tantos outros jogadores conhecidos do torcedor brasileiro espalhados por lá.
O sucesso brasileiro é tanto que Muriqui (ex-Vasco) chegou a ser sondado para se naturalizar chinês antes de se transferir para um time do Qatar no meio do ano.
Fora de campo, há Cuca, técnico campeão da Libertadores-2013 com o Atlético-MG, que dirige o Shandong.
Mas há expoentes de outros países. O ex-zagueiro italiano Fabio Cannavaro é o técnico do Guangzhou. Sergio Batista, que já passou pela seleção argentina, comanda o Shanghai Shenhua.