Tostão
Perdido no tempo
A cada dia, a cada rodada, no Brasil e no exterior, mudam as opiniões e as informações
No mundo atual, imediatista, de verdades e conceitos que, rapidamente, são trocados, esquecidos ou desmentidos, de milhares de informações que mudam a cada dia e que, às vezes, não são confirmadas, depois de terem sido espalhadas por todos os lugares, por meio de um clique, escrever no domingo, sobre o que ocorreu durante a semana, está em desacordo com o ritmo. As coisas mudam com tanta velocidade, que não há tempo nem para curtir o que é bom.
Na terça-feira, vi o Barcelona, contra o Manchester City, na Inglaterra, especialmente no primeiro tempo, jogar coletivamente, como nos melhores tempos com Guardiola. Messi foi espetacular durante toda a partida, apesar de ter perdido um pênalti.
Sorín, que enxerga muito bem os detalhes técnicos e táticos e que exagera nos adjetivos, como chamar de fantástico, mágico ou genial qualquer partida, jogador ou lance comum, fez falta na transmissão da ESPN Brasil. Até ele ficaria embasbacado e sem adequadas palavras para descrever a beleza do futebol do Barcelona no primeiro tempo. O jogo merecia mais que boas informações, boas estatísticas, boas análises táticas e boas críticas ao time inglês. Merecia mais empolgação.
No início de sua carreira, Messi jogava pela direita. Guardiola o colocou pelo centro, onde ganhou, três vezes seguidas, o título de melhor do mundo. Mas os adversários diminuíram os espaços, uma das razões de ele não ter brilhado tanto, como antes, durante os dois últimos anos.
Agora, com Luis Enrique, voltou a atuar pela direita e tem feito, na média, partidas excepcionais, como em seus melhores momentos.
Messi dribla de todos os jeitos, dá passes curtos, longos, magistrais, corre com a bola colada aos pés, em uma indescritível beleza, e finaliza com enorme precisão. Um espetáculo! Se continuar assim, deveria voltar a ser o melhor do mundo. Porém, com existe, no mundo atual, um fascínio pelos números, pelas estatísticas e pelos títulos conquistados, não será o escolhido, se não for o maior artilheiro e/ou se o Barcelona não ganhar grandes títulos.
Assim como a vida, as relações humanas e as reações emocionais, o futebol é muito complexo.
O ser humano, principalmente os operatórios e os utilitaristas, é que tentam simplificá-lo, controlá-lo, com racionalizações, pré-conceitos, excesso de regras, de estatísticas e de tentativas de achar uma única razão que explique tudo, até o inexplicável e o incontrolável.
Após os jogos do meio de semana, no Brasil e no mundo, muitas verdades já não são as mesmas. As coisas mudam a cada rodada. A vida é um clique.
São Paulo e Inter, com um futebol coletivo ruim, contra fracos adversários, voltaram a vencer e a ser bastante elogiados. Pato é, novamente, um craque.
Por ter escrito essa coluna antes dos jogos de ontem, daqui e de fora do país, ela tem chance de ficar desatualizada. Messi pode ter atuado mal, o Barcelona ter perdido e entrado em crise.
Os times entram e saem de crises com enorme facilidade. Tudo passa, mas, no futebol, passa mais rápido. Estou perdido no tempo.