A quase um ano da Olimpíada, Rio para de limpar a baía de Guanabara
2016
Barcos que recolhiam lixo do local de competições de vela 'são para inglês ver', diz secretário
A pouco mais de um ano da Olimpíada, o governo do Rio decidiu suspender a estratégia de limpeza do espelho d'água da poluída baía de Guanabara. O local vai receber as competições de vela em 2016 e um evento-teste em agosto.
A Secretaria Estadual do Ambiente suspendeu há 20 dias o serviço dos ecobarcos, que "varriam" o mar, e vai rever o projeto das ecobarreiras, que represavam os detritos nos rios. Além do replanejamento, fornecedores dizem que o governo atrasou o pagamento do serviço.
A medida foi anunciada nesta terça (3), na semana seguinte à visita do COI (Comitê Olímpico Internacional), marcada pelo anúncio do governo de que não cumpriria a meta de tratar 80% do esgoto despejado na baía.
Apontados desde o início da preparação para os Jogos como os principais meios para retirar o lixo da baía e evitar prejuízo às competições de vela, os ecobarcos e as ecobarreiras passaram a ser criticados pelo governo.
"Do jeito que estão, os ecobarcos são para inglês ver. Qualquer gestor responsável, para evitar o uso ineficiente dos recursos públicos, faria um freio de arrumação", disse, em nota, o secretário do Ambiente, Antônio da Hora.
A pasta afirmou que os ecobarcos não atingiram a meta do projeto, de recolher 45 toneladas de lixo por mês --o projeto tem "custo extremamente elevado e pouco eficiente". Contudo, de acordo com dados da própria secretaria, a meta foi atingida desde agosto, quando os dez ecobarcos passaram a operar --antes eram apenas três.
Ao longo de 2014, eles retiraram 430 toneladas de lixo do espelho d'água da baía, ao custo de R$ 3,5 milhões.
Integrantes da pasta afirmam que está sendo elaborado estudo para analisar o movimento de correntes e marés da baía para melhorar o desempenho dos ecobarcos.
"Não há nenhuma inteligência orientando o trajeto dos barcos", disse Hora.
Dono da empresa EcoBoat, que operava três embarcações, Lourenço Ravazzano diz que os ecobarcos operavam sem orientação. Apenas durante o evento-teste da Olimpíada, em agosto de 2014, o Estado utilizou um helicóptero para indicar locais com concentração de lixo.
"Com a experiência, aprendemos quais eram os locais que acumulavam lixo. Mas não havia esse planejamento", disse Ravazzano.
Contudo, o professor Paulo César Rossman, da Coppe/UFRJ, afirmou que capacitou técnicos da secretaria para utilizarem o Sisbahia (Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental) justamente para esse planejamento.
O governo também decidiu mudar as ecobarreiras, que impediam que o lixo jogado nos rios desembocassem na baía. De janeiro a dezembro do ano passado, os obstáculos bloquearam 2.177 toneladas.
O secretário disse, porém, que as atuais estruturas são frágeis e se rompem facilmente. "O Estado está fechando um novo projeto de implantação e operação de ecobarreiras mais robustas."
Ravazzano disse também que não recebe pelo serviço desde novembro. A limpeza da baía é financiada pelo Fecam (Fundo de Conservação do Meio Ambiente), cuja principal fonte são os royalties do petróleo, em queda desde o meio do ano passado.