Paulo Vinícius Coelho
A saída do abismo
O futebol brasileiro não acabou e é possível montar uma seleção forte com os jogadores que existem
Se o Brasil vencer o Chile no amistoso de Londres, na manhã deste domingo, terá oito vitórias em oito jogos e o melhor desempenho no início de trabalho de um técnico desde João Saldanha, em 1969.
São só amistosos e não apagam os 7 a 1. Mas há um meio termo entre o catastrofismo depois do Mineiraço e o otimismo de Neymar, para quem as vitórias seguidas já fizeram a seleção esquecer o que houve nas semifinais da Copa.
Nem uma coisa nem outra.
O futebol brasileiro não acabou e é possível montar uma seleção forte com os jogadores que existem. Neymar, Phillippe Coutinho, Willian, Oscar, Thiago Silva, David Luiz...
Por dois anos, a percepção deste colunista era de que não se vence um Mundial quando o craque da equipe tem apenas 22 anos.
Nem Pelé. Em 1958 o ponto de equilíbrio era Didi, aos 29. Neymar também não.
Mesmo se nada for feito daqui até a Copa do Mundo da Rússia, ainda assim será melhor, porque as referências do time estarão na faixa dos 26 anos. Neymar, Oscar, Coutinho... Não importa o clube onde joguem, assim como não fez falta a Dunga jogar num time de ponta para ser o líder da seleção de 1994 --jogava pelo Stuttgart, da Alemanha.
Nos jogos de volta das oitavas de final da Liga dos Campeões houve 28 alemães escalados entre os titulares. Brasileiros eram 23, mais do que franceses, italianos e espanhóis --eram seis argentinos. Leve em conta o fato de que havia três clubes alemães --Bayern, Bayer Leverkusen e Schalke. É muito provável que a brasileira será a nacionalidade mais escalada nas quartas de final.
Isso não forma time, mas mostra que o problema não é a carência de jogadores. Especialmente num período em que a distância entre as dez maiores seleções é pequena. Depois da Copa, a Alemanha perdeu da Polônia, empatou com Irlanda e Austrália. Na campanha do título mundial, venceu a França só por 1 a 0 e a Argélia apenas na prorrogação.
A distância real do Brasil para a Alemanha não é 7 a 1, placar que teve muitas razões para acontecer, algumas delas emocionais. "Estão todos com medo de ser Barbosa", disse o zagueiro campeão mundial Márcio Santos depois dos pênaltis contra o Chile. Todos tinham medo de ser o vilão.
Hoje, não faltam grandes jogadores. Há, sim, falta de craques nos campeonatos disputados dentro do Brasil e urgência para diminuir o abismo entre o futebol que não se joga aqui para o que se pratica na Europa.
Na história das Copas, só a França de 1998 teve mais convocados fora do que dentro de seu campeonato nacional. Se a lei de responsabilidade funcionar e houver um processo de construção dos campeonatos no Brasil, sem complexo de vira-lata nem presunção de superioridade, até isso é possível mudar rapidamente.