EUA indicam que Marin dividiu propina com Del Nero e Teixeira
CBF Documentos da Justiça americana sugerem que a partir de 2012 cartolas receberam R$ 2 milhões
O Departamento de Justiça dos EUA indicou que José Maria Marin, ex-presidente da CBF, dividiu propinas recebidas pela exploração comercial da Copa do Brasil com Ricardo Teixeira (também ex) e Marco Polo Del Nero (atual presidente da CBF).
A investigação sugere que, em reunião em abril do ano passado com a Traffic, Marin, então presidente da CBF, pediu que a propina que vinha sendo compartilhada com o antecessor, Ricardo Teixeira, deveria ser paga apenas a ele e a Del Nero.
A conversa teria ocorrido em Miami. O assunto era o pagamento de propinas referentes à Copa do Brasil, cujos direitos comerciais eram cedidos à Traffic. Esse esquema existiria desde 1990.
"Em determinado momento, quando o coconspirador 2 perguntou se era realmente necessário continuar pagando propinas para seu antecessor na presidência da CBF, Marin disse: 'Está na hora de vir na nossa direção. Verdade ou não?', diz trecho do inquérito. "
"O coconspirador 2 concordou dizendo: "Claro, claro, claro. Esse dinheiro tinha de ser dado a você [ou vocês]'. Marin concordou: 'É isso', segue o documento.
O coconspirador 2 é descrito nos documentos do governo americano como "fundador e proprietário da Traffic", características de J. Hawilla.
Antes dessa reunião, porém, a investigação dos EUA aponta que Hawilla concordou em dividir a propina entre Marin e os coconspiradores 11 e 12.
Segundo a Justiça americana, neste processo, tanto o coconspirador 11 quanto o 12 são descritos como altos executivos da CBF, da Conmebol e da Fifa. Só Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero se encaixam no perfil por serem os únicos dirigentes brasileiros com altos cargos simultâneos nas três entidades durante o período investigado.
O termo "coconspirador" é usado nos textos do Departamento de Estado para pessoas não acusadas formalmente ou para preservar a origem de informações.
No início do esquema, em 1990, a propina era paga a Teixeira, que aparece na acusação como "coconspirador 11". A partir de 2012, Marin e Del Nero assumem respectivamente a presidência e a vice-presidência da CBF e passam a exigir parte da propina, sempre de acordo com a investigação dos EUA.
R$ 2 MILHÕES ANUAIS
A peça acusatória afirma que, desde 2012, o valor da propina seria de R$ 2 milhões por ano até 2022, dividida entre os três cartolas.
O custo do suborno seria arcado em partes iguais pela Traffic e a Klefer, do ex-presidente do Flamengo Kleber Leite, empresa que passou a compartilhar os direitos da Copa do Brasil.
O Departamento de Justiça não informou o valor pago entre 1990 e 2012, mas identificou duas transferências bancárias feitas a partir dos Estados Unidos em 2013.
A primeira, de US$ 500 mil, teria sido feita pela Klefer (identificada como companhia de marketing esportivo B) para a conta em Londres de um fabricante de iates.
A segunda transferência (US$ 450 mil), alguns dias depois, teria saído de conta da Traffic em Miami para conta da Klefer em Nova York.