Acuado, Blatter renuncia ao comando da Fifa
Após 17 anos na presidência da entidade, o suíço de 79 anos anuncia saída em meio à maior crise da história da entidade; nova eleição será convocada
Encurralado pelo maior escândalo de corrupção da história do futebol, Joseph Blatter, 79, deixará a presidência da Fifa, cargo mais importante da modalidade no mundo.
Em pronunciamento na sede da entidade, em Zurique, nesta terça (2), o cartola anunciou a convocação de uma nova eleição, a ser realizada entre dezembro e março de 2016, para a escolha de seu substituto. Até lá, continuará como presidente.
"Embora tenha um mandato, sinto não ter o apoio de todo o mundo do futebol: torcedores, jogadores, clubes, das pessoas que vivem, respiram e amam o futebol", afirmou o suíço.
À frente da Fifa há 17 anos --assumiu a presidência em 1998 sucedendo o brasileiro João Havelange, de quem havia sido o braço direito--, Blatter tomou a decisão de sair da entidade quatro dias após ter sido reeleito para o seu quinto mandato. E no dia seguinte ao escândalo de corrupção ter atingido em cheio seu maior escudeiro, Jérôme Valcke, secretário-geral da entidade. Ele movimentava dinheiro usado para propina, conforme revelou o jornal "New York Times".
Nesta terça-feira (2), a TV sul-africana SABC reforçou as suspeitas que pesam sobre Valcke, detalhando o modus operandi do esquema.
Em 2008, segundo o canal, ele recebeu uma carta do ex-presidente da Associação de Futebol Sul-Africana, Molef Oliphant, pedindo a transferência de US$ 10 milhões para Jack Warner, então presidente da Concacaf.
As autoridades americanas apontam que esse dinheiro foi usado para comprar votos a favor da candidatura da África do Sul à Copa de 2010.
A Fifa confirma que o dinheiro foi transferido para Warner, mas nega ligação com propina. Diz que a verba foi dada para a criação de um fundo de legado para os países do Caribe.
O secretário-geral não participou do pronunciamento de Blatter.
Segundo a Fifa, Valcke também permanecerá com seu cargo na entidade até a escolha do novo presidente.
Com seu braço direito muito enfraquecido, com as prisões de cartolas próximos e ciente de que o apoio a ele estava em queda, especialmente na Europa, Blatter avaliou que sua permanência se tornara insustentável.
Sua renúncia também tem motivações comerciais.
A Fifa tem perdido os seus principais patrocinadores. Empresas como Sony, Emirates, Castrol, que eram parceiras da entidade, deixaram de apoiá-la depois da Copa no Brasil. Em seu site, a Fifa registra cinco patrocinadores --na Copa, eram 20.
Um presidente sob fogo cerrado, caso de Blatter, poderia afugentar as demais empresas e impedir a chegada de novos patrocínios.
Nesta terça (2), autoridades dos EUA disseram ao jornal "New York Times" que o cartola deve se tornar alvo das investigações. Mas não há detalhes sobre qual seria sua implicação.
'MELHORES CANDIDATOS'
A nova eleição ocorrerá entre o fim deste ano e o início de 2016 para atender ao estatuto da entidade. O documento diz que o pleito só pode ser realizado quatro meses após sua convocação oficial.
"Vou convocar o Comitê Executivo para organizar um congresso extraordinário e eleger meu sucessor. Precisamos dar tempo suficiente para que os melhores candidatos se apresentem", disse.
Em seu discurso, o presidente da Fifa afirmou que no período até a nova eleição irá comandar uma "reforma estrutural" na entidade.
Seu alvo é o Comitê Executivo, órgão que tinha como membros três dos sete cartolas presos na Suíça.
Blatter pretende reduzir o comitê e limitar mandatos, inclusive do presidente. Deve ainda alterar o modo de escolha de membros.
Com promessas desse tipo, o suíço procura preservar ao menos parte de seu poder e de seu prestígio.
No discurso em que anunciou sua saída, Blatter não falou em corrupção.
"O que importa para mim, mais do que tudo, é que, quando tudo isso terminar, o futebol seja o vencedor".