Corrupção no futebol
Hawilla colabora com o FBI desde 2013
Empresário paulista usou grampo em conversas com José Maria Marin, segundo investigação dos Estados Unidos
Um dos principais pivôs da investigação sobre a Fifa, o empresário paulista José Hawilla colabora com o FBI (polícia federal norte-americana) desde o final de 2013.
A partir daí, ele passou a usar grampo em conversas com outros envolvidos em esquemas de pagamento de propina e lavagem de dinheiro ligados a contratos de futebol, incluindo o então presidente da CBF, José Maria Marin, que está preso na Suíça há uma semana.
A Folha apurou que abordagem do FBI ocorreu logo após o próprio Hawilla, 71, ter sido gravado por outro envolvido. Em dezembro de 2014, ao final de cerca de um ano de colaboração, ele formalizou um acordo com a Justiça pelo qual se declara réu confesso e se compromete a pagar US$ 151 milhões (cerca de R$ 473 milhões), dos quais o empresário já depositou US$ 25 milhões (R$ 78 milhões).
Hawilla é fundador e dono da Traffic, a maior empresa de marketing esportivo da América Latina. Seus negócios incluem também a TV TEM, afiliada da Rede Globo que transmite para 318 municípios do interior paulista.
Segundo reportagem recente do jornal "Miami Herald", em abril do ano passado, o empresário gravou até uma conversa com Aaron Davidson, presidente da Traffic USA, filial da sua empresa nos EUA. Davidson também foi indiciado.
Além de Hawilla, ao menos outro réu confesso, o ex-membro do Comitê Executivo da Fifa Chuck Blazer, concordou em gravar conversas para o FBI sobre propina, segundo o "New York Times".
A conversa obtida pelo FBI entre Hawilla e Marin ocorreu em abril do ano passado, em Miami. Parte do diálogo é reproduzido textualmente na acusação da Justiça divulgada na última quarta (27), dia em que houve a prisão de sete dirigentes da Fifa na Suíça.
O assunto entre eles era a distribuição do pagamento anual de R$ 2 milhões de propina relacionada aos direitos de transmissão da Copa do Brasil, torneio que é disputado desde 1989.
Sempre de acordo com a investigação americana, Marin sugere que o seu antecessor, Ricardo Teixeira, deveria parar de receber. A divisão a partir dali só seria entre ele e Marco Polo Del Nero, que assumiu a CBF neste ano.
Teixeira e Del Nero não são citados nominalmente na acusação, mas aparecem, respectivamente, como "coconspirador 11" e "coconspirador 12". Hawilla, por sua vez, aparece como "coconspirador 2".
O diálogo em poder do FBI é este, em tradução livre: "Em determinado momento, quando [Hawilla] perguntou se era realmente necessário continuar pagando propinas para seu antecessor na presidência da CBF, Marin disse: 'Está na hora de vir na nossa direção. Verdade ou não?'.
"[Hawilla] concordou dizendo: "Claro, claro, claro. Esse dinheiro tinha de ser dado a você [ou vocês]'. Marin concordou: "É isso".
Após a prisão de Marin e a revelação do teor da investigação, Del Nero deixou o congresso da Fifa na Suíça e voltou às pressas para o Brasil.