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Juca Kfouri

Fica, Neymar!

Passamos anos reclamando da fuga de nossos craques. E agora queremos que eles se vão?

PEÇO LICENÇA ao raro leitor e à rara leitora para divergir aqui de dois vizinhos no que está longe de ser o que aparenta, isto é, uma questão paroquial, simplesmente de vizinhança, até porque envolve o mundo globalizado.

O vizinho novo, Lúcio Ribeiro, escreveu aqui ao lado que Neymar tem de ir embora para a Europa.

E o vizinho antigo, mestre Tostão, desceu do muro sobre o tema e aderiu.

Prefiro fazer coro a outro vizinho, não de parede, mas de visão de mundo, o colunista do diário "Lance!" (e também da Folha.com) José Luiz Portella, que se manifestou em sentido oposto e ainda cobrou que se cobre dos caríssimos (aos cofres dos clubes) treinadores a atualização necessária para impedir que nossos melhores jogadores percam o bonde dos novos rumos, que nem são tão novos, do futebol mundial.

Porque, de fato, se passamos anos e anos da década de 80 para cá reclamando do mero papel de exportadores de pé de obra, não parece fazer sentido pregar a saída do maior craque brasileiro, exatamente quando o Santos faz um esforço brutal e exemplar para mantê-lo no país. É claro que há compreensíveis razões técnicas para defender a ideia de que na Europa ele progrediria, e tanto Ribeiro como Tostão, diferentemente do empresário Ronaldo Nazário, batem é nesta tecla.

Mas, se o argumento é mesmo tão forte a ponto de ser decisivo, cabe lembrar que o tricampeonato mundial brasileiro foi conquistado por três seleções compostas só por jogadores que atuavam no Brasil.

Sim, é verdade que o mundo mudou e que o tetra e o penta já mostraram situação oposta, mas, pombas!, no momento em que teremos uma Copa aqui e em que a situação econômica, mesmo que apenas momentaneamente (não nos enganemos), nos favorece, será hora de ver Neymar no Barcelona ou no Real Madrid?

Pode parecer complexo de dálmata (grande sacada de Francisco Bosco, em "O Globo"), mas o contrário não faz lembrar do centenário Nelson Rodrigues e o complexo mais tradicional, o de vira-latas?

Tirante tudo isso, conforta-me saber que meu querido Tostão também se preocupa com o eventual excesso popstar de Neymar, tentação que não afeta o gênio Lionel Messi, está distante de Xavi Hernández e passa ao largo de Andrés Iniesta, embora seja a marca registrada de Cristiano Ronaldo, Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho...

Mas melhor popstar aqui do que lá.

blogdojuca@uol.com.br

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