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Tostão

Não precisam de você

O Barça tem semelhanças e diferenças com as grandes seleções e times brasileiros do passado

Já posso me aposentar. Nessa semana, completei 65 anos. Por isso, procuraram-me para falar de minhas carreiras e de minha vida. Gosto de falar de futebol. Não sou mais protagonista. Sou comentarista, palpiteiro oficial.

Fiz coisas certas e erradas. Só os medíocres passam pela vida sem cometer erros, sem criar fantasmas e sem ter a consciência de que poderiam ter feito melhor e, às vezes, diferente.

Nunca quis parecer mais humilde do que a humildade, mais sábio do que a sabedoria nem mais generoso do que a generosidade. Tento apenas ser um bom cidadão. É minha obrigação. Nada mais do que isso.

Tive várias profissões. Fui atleta profissional, médico clínico, professor de medicina, comentarista de televisão e de rádio e, agora, sou colunista, além de filósofo de botequim. Quase me tornei psicanalista. Completei o curso teórico, mas desisti. Não me sentia capaz de desvendar os segredos e mistérios da alma, já que não entendia nem entendo a minha.

Hoje, incomoda-me menos a finitude da vida. Compreendo e aceito mais a fragilidade e a insignificância humanas. "As coisas não precisam de você", diz a bela música "Virgem", escrita por Antônio Cícero e Marina Lima, cantada pela Marina.

Fico contente e orgulhoso de ser reconhecido pelo jogador que fui. Isso é uma coisa. Outra é viver do passado. Não gosto de usufruir, no presente, de conquistas do passado nem que apreciem ou não meus textos influenciados por outras épocas. Como se vê, tenho algumas manias.

No passado, havia, como hoje, muitos craques, grandes times e também jogadores e equipes medíocres. É importante conhecer bem o futebol do passado para entender o do presente.

A moda é dizer que o Barcelona joga da mesma forma que as grandes seleções e equipes brasileiras do passado. Não é bem assim. Há semelhanças e diferenças. As semelhanças são as trocas de passes, as triangulações, a bola de pé em pé e o jogo bonito. A seleção de 1970, como o Barcelona, tinha no meio-campo um único volante (Clodoaldo) e dois craques armadores (Gerson e Rivellino), que marcavam, organizavam e chegavam ao ataque. No Barcelona, Busquets é o volante, e os armadores são Xavi e Iniesta.

As diferenças, além do preparo físico e da maior velocidade dos jogadores atuais, são, principalmente, a marcação por pressão e os poucos espaços que o Barcelona deixa entre seus setores. O Barcelona marca mais. Joga e não deixa jogar. É um time do presente.

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