Na disputa da TV paga, Esporte Interativo aponta pressão de rivais
FUTEBOL NA TV Executivo do canal, que exibe Liga dos Campeões, insinua 'interferência indevida'
Apenas 12% dos assinantes de TV paga no Brasil tiveram acesso à primeira rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa.
Isso porque o Esporte Interativo, que detém os direitos de transmissão do evento desde outubro de 2014, está presente somente nas operadoras Oi, GVT e TV Alphaville, além de outras regionais.
A emissora e as maiores operadoras de TV por assinatura do Brasil, NET e Sky –que, juntas, detêm cerca de 80% dos assinantes– vivem uma queda de braço, que impede o Esporte Interativo (especialmente seu canal EI MAXX, que exibe a Liga dos Campeões) de ocupar espaço nas grades de programação.
À Folha, o ex-presidente do Esporte Interativo e atual vice-presidente sênior e gerente de esportes da Turner América Latina, Edgar Diniz, explica os motivos que ele acredita terem causado o impasse que limitou um acerto do canal nas maiores operadoras.
"No início de agosto, nós tínhamos praticamente fechado um acordo com duas grandes operadoras, com as bases financeiras acertadas", diz ele, sem dar nome às operadoras.
"Quarenta e oito horas depois, ambas voltaram atrás. Nesse meio tempo, aconteceu um discurso de um importante executivo de uma emissora em feira da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), no qual dizia que havia loucos à solta no mercado, referindo-se à Turner."
A Turner, gigante americana da área do entretenimento, é sócia-majoritária do Esporte Interativo.
Ainda que evite citar nomes, no período citado por Diniz quem falou na ABTA foi Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat. Ele disse que existiam "loucos à solta", referindo-se aos valores investidos por emissoras na aquisição de direitos de transmissão, entre elas, a Turner, o grupo norte-americano Discovery na Europa e a Al-Jazeera, do Qatar.
Na mesma ocasião, uma mesa-redonda que tratava da relação entre os valores investidos na compra de direitos de transmissão e seu efeito na cadeia de valores do mercado, Pecegueiro afirmou que cabia às operadoras impor um limite. A Globosat controla a SporTV, concorrente do Esporte Interativo.
Em nota nesta sexta (18), o Esporte Interativo afirma que o entrave nas negociações com as principais operadoras não é o preço. "As operadoras que voltaram atrás não reclamaram dos nossos preços, que são substancialmente inferiores [a outros canais de esporte]. A gente estranha se tiver alguma interferência indevida no mercado", continua Diniz.
"Para alguns competidores, a concorrência pode não ser boa. Mas para as operadoras, é interessante melhorar suas grades, para se destacar e atrair mais assinantes. Com mais variedade, elas também têm menos dependência de alguns canais. Para o consumidor, é ótimo ter contato com programas de qualidade", afirma Diniz.
"O mercado deve funcionar de forma livre. Qualquer movimento que iniba a competição não vai prevalecer."
Mesmo nesse cenário, ele explica que as conversas com as operadoras continuam.
Procurada pela reportagem, a Sky reafirmou que não há previsão para a entrada do Esporte Interativo em sua grade. A NET não respondeu até a publicação desta matéria.
Nos últimos 25 anos, a ESPN transmitiu a competição, e como tem espaço nas grades, não houve maiores problemas para os interessados acompanharem a Liga dos Campeões.