Desemprego FC
Quase 1 a cada 3 jogadores que atuaram nas principais séries do Paulista-2015 está sem clube
A expressão jogador de várzea é utilizada de maneira pejorativa no futebol profissional para indicar baixa qualidade, mas para Anderson Portela de Araújo, 27, ser um jogador de várzea significa sobrevivência. Sem clube há cinco meses, ele buscou no futebol amador a forma de manter-se em atividade.
Magrão, como o atacante é conhecido, disputou o Paulista pelo São Bernardo, onde recebia pouco mais de R$ 5.000 mensais. Após a eliminação da equipe, ficou desempregado. Migrou para a várzea, onde defende três equipes e chega a receber até R$ 700 por fim de semana.
Com treinos diários e jogos aos finais de semana, espera arrumar um time profissional até o final deste ano. O status dele, jogador sem clube, não é diferente de outros companheiros de profissão que disputaram uma das três divisões do Estado de São Paulo.
A taxa de atletas sem clubes no futebol de São Paulo é de 31%. O número é resultado de levantamento inédito realizado pela Folha. Durante dois meses, a reportagem vasculhou o destino de 1.704 jogadores inscritos nas Séries A-1, A-2 e A-3 do Estado. No total, 523 atletas ficaram sem clube após os torneios.
A pesquisa incluiu consulta ao registro de atletas da FPF (Federação Paulista de Futebol), aos clubes e a dois bancos de dados de jogadores, o português "O Gol" e o alemão "Transfermarkt". Jogadores que atuaram no Paulista também foram ouvidos.
O Bom Senso FC, movimento de atletas pela melhoria do futebol, não tem um estudo semelhante. Faz levantamento do número de clubes inativos e calcula a partir desse dado a taxa aproximada de quantos estão inativos.
A taxa de jogadores sem clube no Estado supera a taxa de desemprego registrada no Brasil no segundo trimestre deste ano, que foi de 8,3%.
LIVERPOOL-TATUAPÉ
1º de setembro de 2008. Aos 18 anos, o meia-atacante Vitor Flora, revelado no Botafogo-SP, é anunciado de forma surpreendente pelo inglês Liverpool, dono de cinco títulos da Liga dos Campeões.
1º de setembro de 2015. O mesmo jogador virou um "cigano da bola", jargão para quem passa por vários times. Está sem clube desde maio.
"Quando você está em um time pequeno, você tem que ser um Pelé para conseguir um outro clube no segundo semestre", disse Vitor Flora, que era do Monte Azul, clube que escapou do rebaixamento na Série A-2 paulista.
Às segundas, quartas e sextas-feiras, o paulistano Alex Fernandes da Silva, 23, acorda às 5h30 e viaja do Parque Santo Antônio, na zona sul da capital paulista, até a Penha, na zona leste, para treinar –utiliza dois ônibus, metrô, faz três baldeações e ainda pega outro ônibus.
Alex é jogador de futebol e está sem clube. Ele demora quase duas horas para chegar ao Campo do Mooquem, onde treina no Expressão, time que o Sindicato dos Atletas de São Paulo criou para jogadores manterem a forma.
"Só uma minoria explode no futebol. O restante passa dificuldade. Decidi ter um plano B. Faço curso de educação física e apito jogos de futebol society aos sábados e domingos", afirma Alex.
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