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Xico Sá

Na ponte aérea do amor

Do outro lado da via Dutra, não é suficiente apenas ser feliz, há que se demonstrar publicamente

Amigo torcedor, amigo secador, uma das grandes diferenças entre o Rio e São Paulo, e não apenas no futebol, é que do outro lado da via Dutra não é suficiente apenas ser feliz, há que se demonstrar publicamente, com o sol por testemunha, que essa felicidade existe.

Não basta apenas fazer um golaço na véspera, tem que receber, no dia seguinte, carinhos na areia da Barra. Como fez ontem Ronaldinho Gaúcho, para delírio da massa e inveja da radiopatrulha que não sabe o valor do amor avulso. Classificou o time para a Libertadores, pensa o rubro-negro, que se esbalde, só se vive uma vez, Flamengo.

Outra lição carioca, sacramentada por Vinícius de Moraes: é impossível ser feliz sozinho. O mantra não é muito levado a sério em São Paulo. Miss Corações Solitários, uma moça que tento desesperadamente amar no 11º andar do edifício Copan, que o diga. Somente a solidão, essa pantera, é sua augusta companheira inseparável.

O paulistano, e isso pode ser considerado uma sabedoria discreta, ama escondido. Um amor sem horizonte, filosofia da alcova, amor de amante, mesmo com a legítima esposa de papel passado. Tudo bem, não temos praia, mas nos parques o sarro também é tímido e as formigas de contenção atrasam o massivo ataque no piquenique. Na noite, porém, desde o cineasta Walter Hugo Khouri -Antonioni da Mooca-, São Paulo se revela mais bonita, apesar das proibições do Kassab, este pobre Jânio Quadros sem álcool.

É na pornopopeia noturna, meu caro Reinaldo Moraes, que boleiros e Marias Chuteiras, essas injustiçadas senhoritas, fazem a festa. Só existe amor em SP depois da meia-noite. Ronaldo Fenômeno que o diga. Trocou fácil a praia pelo charme discreto da burguesia paulistana.

Manhã, tão bonita manhã teve o Ronaldinho Gaúcho, repito. O cara é chegado. Mesmo. Tia Carmen que o diga. O boleiro está certo. E faz questão de deixar explícito. Quem dá bola para salário atrasado quando o almoço é sempre de graça? A mesma sorte não teve o professor Luxemburgo, demitido. Está pagando todos os seus pecados. Quando mira apenas o futebol, o que é raro, ainda é o melhor do país, o que deixa jogar mais bonito.

Rebobinemos a fita. Os carinhos da morena do R10. Sabe o que mais gostei na nega? Não parecia uma daquelas manjadas modelos-atrizes. Tinha um ar de moça de família.

A gente se engana, mas vale o escrito.

xico.folha@uol.com.br

@xicosa

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