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Grécia abandona programa olímpico

2012 Por conta da crise europeia, esportistas encaram atraso de salários e falta de estrutura para treinamento

KEN MAGUIRE
DO “NEW YORK TIMES”, EM ATENAS

E se o país que inventou a Olimpíada não tiver dinheiro para preparar atletas?

Na Grécia, os atletas de elite sentem o peso das medidas de austeridade adotadas devido à grave crise de dívida.

O governo abandonou um plano que previa investir US$ 10 milhões ao ano em preparação olímpica, segundo o Comitê Olímpico Helênico.

Os atletas dizem que seus salários são pagos com meses de atraso, e é comum que técnicos passem meses sem receber. Centros de treinamento fecharam as portas ou operam precariamente. Uma psicóloga esportiva que ajuda os atletas vem trabalhando de graça há algum tempo.

Os gregos disputarão os Jogos de Londres, mas é possível que cheguem mancando à cerimônia de abertura, programada para 27 de julho.

"Os atletas jovens estão muito céticos quanto a continuar batalhando, porque veem que os maiores atletas do país não estão recebendo o que merecem", diz Vassilios Sevastis, presidente da associação de atletismo amador, conhecida pela sigla Segas. "Esse é o principal risco para o esporte de um país."

A Grécia participou de todos os Jogos de verão da era moderna, desde 1896, quando Atenas foi sede. Mesmo na Grande Depressão, os gregos enviaram uma delegação a Los Angeles, em 1932, ano em que o país decretou moratória sobre sua dívida externa.

Para estar em Londres, o Comitê Olímpico do país busca patrocinadores privados e depende mais pesadamente da assistência do COI (Comitê Olímpico Internacional).

A maior preocupação é determinar se a Grécia, que sediou a Olimpíada de 2004, a qual veio a se tornar símbolo de uma década de gastos públicos excessivos, será capaz de sustentar esse esforço.

Como outros atletas, Kostas Filippidis, do salto com vara, diz que há meses não recebe o salário de US$ 1.400.

Treina em um ginásio no complexo olímpico de Atenas. Diz que o sistema de aquecimento só funciona uma hora por dia. Em visita recente, um grande barril plástico estava posicionado em uma raia de salto em distância para recolher a água que vaza da claraboia acima.

Alhisti Avramidou, do polo aquático, disse "pensar duas vezes" antes de gastar € 1 e que pedir ajuda a seus pais está se tornando mais difícil. O pai, médico, teve seu salário reduzido à metade, e a mãe, funcionária pública, não recebe há meses.

Sevastis diz que a organização atlética recebeu 75% da verba de US$ 9,6 milhões projetada para 2011, e isso após uma injeção urgente de US$ 1,6 milhão em dezembro. Um mês antes, o conselho da Segas havia suspendido suas operações em protesto.

O dinheiro pagou parte do salário atrasado dos atletas e técnicos. A Segas está bancando apenas 23 atletas de elite, ante 60 há dois anos.

No passado, os atletas com destaque internacional recebiam empregos públicos, e com isso eram pagos. Na prática, eram empregos de fachada, mas as novas leis do país obrigam que os funcionários públicos trabalhem.

Para Spyros Capralos, presidente do Comitê Olímpico do país, é preciso novos patrocínios. "No passado, era mais fácil obter dinheiro do governo, e por isso não havia muito esforço de patrocínio, ninguém se incomodava."

O plano quadrienal do comitê grego previa investimento de US$ 40 milhões, porém depois dos US$ 10 milhões recebidos do governo em 2009, afirma Capralos, as verbas olímpicas foram eliminadas do orçamento.

Apareceram novos patrocinadores, como a companhia de apostas Opap, que contribui com US$ 6,5 milhões. (O governo grego detém 34% das ações da Opap.) A Olympic Air está transportando atletas gratuitamente.

O ginasta Vasilis Tsolakidis, 32, que estreará na Olimpíada, nas barras paralelas, tem apoio de sua federação, mas diz que a empresa de sua família, a Traffic Oil, é que o patrocina e permite que treine em período integral. Ele e a mulher têm quatro filhos.

Maria Psychountaki, psicóloga do esporte na Universidade de Atenas e conselheira de atletas há 22 anos, disse que, nos dois últimos anos, eles apresentam maior estresse. "Estão preocupados em ter dinheiro para sobreviver."

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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