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Xico Sá

O outono de Teixeira

Cartola testou sua popularidade e teve o apoio de nobres do ramo da bola, como Ronaldo

Amigo torcedor, amigo secador, como o tirano de "Outono do Patriarca", livro de Gabriel García Márquez, o presidente da CBF, sr. Ricardo Teixeira, simulou a sua possível "morte" para sentir a reação do populacho e dos poderosos do esporte.

O centenário ditador sem nome, de alguma ilha do Caribe, tinha dúvida sobre se ainda era querido pela massa. Alugou um sósia para morrer por ele. Enfurecida, a multidão praticamente fez o dublê de morto de Judas no palácio mal-assombrado. Teixeira não promoveu funeral de sósia, como na ficção, mas testou a sua popularidade. Ao contrário do tirano de García Márquez, teve o apoio de nobres do ramo da bola, como o empresário Ronaldo Fenômeno, ex-jogador do Corinthians e membro do comitê da Copa-14.

Tudo indica que o homem da CBF, cada vez mais eivado de denúncias, como revelou a Folha nesta semana, esteja mesmo fora da entidade. O debate sobre a sucessão é o melhor dos sinais. Caso tenha mesmo se fingido de morto, acabou fundamentando sua cerimônia do adeus.

A lentidão do outono, porém, rende gloriosos epitáfios, como a defesa feita por aquele que foi um Fenômeno em campo e agora se mostra apenas mais um descompromissado ganhador de dinheiro fora das quatro linhas. Não é pecado amar o capital. Existem, porém, apertos mais dignos e calorosos na mão invisível do mercado.

Mais dignos do que nos revela a foto histórica de ontem na posse do ex-jogador e atual deputado Bebeto (PDT-RJ) no conselho do COL. Cinco mãos empilhadas. Duas do patriarca, duas do Fenômeno e uma solitária do campeão do mundo de 1994. Uma mão lava a outra. Ou o contrário: suja.

Sim, amigo, a essa altura, você, que matou a sede de ingenuidade na cacimba ideológica do ceticismo, deve estar pensando: "Mas de que adianta o sr. Teixeira pedir o boné se outros do mesmo naipe irão passar o chapéu no seu lugar?!".

Bela reflexão. Mas adianta. Seja o ex-governador biônico José Maria Marin ou o comandante Sanchez, a história se movimenta e o embate é reaberto. Saímos do 0 a 0 para um novo estado de coisas.

São 19h em Brasília. Escrevo com um olho nestas mal traçadas linhas e o outro no noticiário. O patriarca resiste à crônica de uma renúncia especulada. Estaria planejando uma ressurreição fenomenal? Ao contrário do sósia do ditador de García Márquez, talvez esteja forjando um dublê de corpo para permanecer, com garantia até os próximos milhões da Copa, no seu trono.

xico.folha@uol.com.br
@xicosa

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