Superluta

De um lado, "um verdadeiro gênio dos ringues e ídolo do povo: Muhammad Ali". Do outro, Superman. Ah, "ele também um ídolo do povo".

A descrição desse combate está no gibi "Superman vs. Muhammad Ali", relançado no Brasil em edição de luxo.

A HQ foi publicada em 1978, nos EUA. O super-herói era conhecido pela invencibilidade. O lutador, que acaba de fazer 70 anos, idem.

As famas concorrentes são postas em discussão conforme aliens cercam a Terra e dão um ultimato, exigindo uma disputa entre o melhor lutador de cada planeta.

Os invasores querem uma chance para destruir a humanidade. Se vencerem a luta, exterminam o planeta azul.

O problema é decidir quem enfrentará os aliens: Muhammad Ali ou Superman.

O desempate é uma luta travada sob um sol vermelho, com Superman enfraquecido.

A história se passa nessa atmosfera belicosa. Naqueles tempos, a Guerra Fria constantemente aparecia, ainda que sob vestes fantasiosas, nas histórias em quadrinhos.

CLÁSSICO

Talvez Neal Adams esteja exagerando no prefácio da reedição, ao dizer que o gibi foi "uma das melhores 'graphic novels' já feitas". Mas a HQ é, de fato, uma homenagem honrosa ao atleta e ao herói.

A arte de Adams, consagrado por suas ilustrações de Batman e de Lanterna Verde, impressiona tanto pela perspectiva exagerada como pela variação do ponto de vista. O papel couché da reedição ajuda a ressaltar as cores vivas.

O roteiro, assinado por ele e por Denny O'Neil, também dá sinais da genialidade que fez desse gibi um clássico.

Mísseis são descritos como "delgadas agulhas letais". A explosão de uma ilha é comparada a "uma velha morsa sem vontade de se mexer" que então "expele a si mesma para o céu violentamente".

A edição traz, além de rascunhos, o depoimento da editora Jenette Kahn, responsável por unir os dois ídolos.

O embrião desse projeto foi o embate entre Superman e Homem-Aranha, em 1976 -ponto de partida para décadas de "cross-over" (encontro entre personagens de histórias diferentes) nos gibis.

Dos "cross-over", o estrelado por Muhammad Ali é, aí sim, um entre os melhores.