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Entrevista Ronaldo

Aceitaria ser presidente da CBF depois da Copa de 2014

Ex-jogador diz que gestão de Ricardo Teixeira foi positiva e que a hora é de 'tocar o barco' na organização do mundial

FERNANDO RODRIGUES
EM SÃO PAULO

Único interlocutor do COL (Comitê Organizador Local) da Copa de 2014 com trânsito livre no Palácio do Planalto, o ex-jogador e hoje empresário Ronaldo Luís Nazário de Lima, 35, diz pretender "virar um político do futebol".

Indagado se gostaria de ter posição proeminente no comando do esporte no Brasil, como Michel Platini ou Franz Beckenbauer, Ronaldo responde: "Eu quero sim".

Em entrevista à Folha e ao UOL, Ronaldo declarou não saber "se seria um candidato a presidente da CBF", mas que "aceitaria" tal posição pós-Copa-14. Teve o cuidado de preservar o atual chefe da entidade, José Maria Marin.

Favorável mais adiante à criação de uma liga de clubes, diz que "qualquer mudança agora, nesse momento, no próximo ano, ou até a Copa seria um movimento errado". "A gente tem que tocar o barco do jeito que está."

Ronaldo tem quatro Copas no currículo e o título de maior artilheiro desse torneio, com 15 gols anotados.

Afirma não sentir mais dor no joelho. Passou um ano sem exercícios. Engordou e agora corre, pedala, faz boxe e muay thai (arte marcial).

Sua principal atividade é como presidente da agência de publicidade 9ine. A empresa gerencia a exposição de esportistas como Neymar (Santos) e Lucas (São Paulo).

Ronaldo nega haver conflito de interesses entre seus negócios e sua atividade no COL. Afirma que, no comitê, não recebe salário. "Graças a Deus fiz minha vida financeira jogando futebol. Graças a Deus dinheiro não é o meu foco, não é o meu objetivo. Portanto eu posso escolher as coisas que me dão gosto de fazer, que me dão prazer."

A seguir, trechos da entrevista, realizada na última sexta-feira, na sede da 9ine.

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Folha/UOL - Há conflito de interesses entre suas atividades como empresário e sua participação no COL?

Ronaldo - Não há o menor tipo de conflito de interesses. O comitê não contrata serviços. O comitê supervisiona as obras, acompanhando o andamento. Portanto não indica nem contrata nenhum tipo de serviço para obras.

Mas e o fato de alguns eventuais clientes da 9ine serem patrocinadores da Copa? Não há conflito aí?

Não. E seria ótimo se algum cliente nosso entrasse realmente na cota Fifa porque isso quer dizer um faturamento maior para a gente também, dentro da legalidade.

Sua entrada no COL se deu por convite de Ricardo Teixeira. A saída dele muda algo?

Continua igual. O fato de ter recebido convite do Ricardo Teixeira não me liga a ele.

Qual é o impacto da saída de Ricardo Teixeira da CBF?

O futebol está bem encaminhado no Brasil. O José Maria Marin vai comandar a CBF até a Copa. Vai dar continuidade ao trabalho que vinha sendo feito. A partir de 2014 vai ser outra história, com eleição, com a participação cada vez maior do público.

Sua avaliação da gestão de Ricardo Teixeira é positiva?

É positiva. Logicamente que não sou advogado e eu me defendo. Estou sempre falando por mim e não falo pelos outros. Mas acredito que a participação dele no futebol deu uma grande contribuição. A maior de todas foi ser o articulador para trazer a Copa do Mundo para o Brasil.

Como deve ser a sucessão de poder na CBF?

O presidente que entrar em 2014 tem que ter a participação muito maior dos clubes, obviamente das federações e, consequentemente, fazer um trabalho de muita transparência. Que dê atenção aos atletas profissionais, não só nos grandes centros, mas nos Estados mais carentes.

Os clubes têm musculatura para fazer uma liga e implementar tal mudança?

Isso seria importante ser debatido entre os clubes, CBF, federações. Chegar a um entendimento [sobre] a criação da liga do futebol brasileiro. Eu sou favorável à criação de uma liga. Apoiaria. Mas eu acho que é cedo para falar disso. Qualquer mudança agora, no próximo ano ou até a Copa seria um movimento errado. Eu acho que agora a gente tem que tocar o barco do jeito que está. Eu vou me preocupar somente com o comitê. E José Maria Marin, que está na CBF, vai se preocupar com a CBF. Vamos também estar no comitê, ele acumula essas duas posições, mas qualquer movimento agora acho que seria equivocado.

Você se enxerga mais para frente ajudando a reformatar o futebol brasileiro? Ter uma contribuição sua mais direta?

Sim, eu quero começar minha vida política do futebol. Quero virar um político do futebol. O futebol ainda tem muito que melhorar, evoluir.

Em alguns países, ex-jogadores têm participação na política do futebol, como Beckenbauer e Platini. Você se vê sendo o que eles são aqui no Brasil? Um dirigente?

Eu aceitaria. Não sei se me candidataria a...

...Presidente da CBF?

É. Não sei se seria um candidato a presidente da CBF. Mas aceitaria sim. Porque eu vejo um potencial muito grande de melhoria no futebol. Eu acho que, mesmo com a contribuição tão grande que eu dei jogando futebol, eu posso ser muito mais útil fora das quatro linhas.

Quando você fala em não se candidatar, mas que aceitaria, significa que teria que ser um consenso entre clubes para te levar ao comando?

Não sei exatamente também porque para isso preciso ter um conhecimento do estatuto da CBF. Mas também é uma ideia muito heroica, digamos assim, de desejo realmente de ajudar. Graças a Deus fiz minha vida financeira jogando futebol, levando pancada, quebrando o joelho, fazendo gols. Graças a Deus dinheiro não é o meu foco, meu objetivo. Portanto posso escolher as coisas que me dão gosto de fazer, que me dão prazer. Como ter aceitado o convite do COL. E a primeira coisa que quis deixar claro é que eu não queria ser remunerado por aquilo.

Pós-Copa-14 você aceitaria o cargo de presidente da CBF?

É muito cedo para falar... Eu quero estar junto. Eu quero estar no meio. Eu quero ser importante nesse momento, quando tudo isso acontecer.

Na sexta, você esteve em uma reunião entre a presidente da República e Joseph Blatter, presidente da Fifa. Como foi?

O clima foi muito bom. Amistoso, tranquilo. A presidenta pôs todas as suas ideias para o presidente da Fifa.

Falou-se especificamente de algum item das garantias para a Copa ser no Brasil?

O governo federal se compromete a entregar todas as garantias que a Fifa pede. Acontece que vivemos num país democrático e tudo leva tempo no Congresso.

Você já conviveu um pouco com Fernando Henrique e com Lula. Qual é a diferença entre eles e Dilma?

Com homem a gente brinca mais, fala mais besteiras. A gente conversa, conta piada. Eventualmente bebemos juntos. Um vinho ou alguma coisa. Com a Dilma ainda não tenho essa intimidade.

Você às vezes joga pôquer com o Fernando Henrique?

De vez em quando. Ele quer apostar pouco. R$ 10 no máximo [risos]. Mas o jogo normalmente não é muito caro. Ele quer jogar muito barato.

Como tem sido o seu contato com José Maria Marin?

Nós não tivemos contato físico ainda. Falei com ele pelo telefone. Desejei a ele boas vindas e boa sorte no comando da CBF. Temos um encontro marcado para a semana que vem [nesta semana].

Ele está preparado para exercer a função até 2014?

Preparado e tranquilo.

Como está seu joelho?

O joelho está bem. É a melhor parte do corpo. Voltei a treinar. Estou correndo e pedalando. E fazendo boxe e muay thai. Está sendo divertido. Depois de um ano sem fazer nenhum exercício... Foi o tempo que eu me dei para relaxar e não fazer exercício depois de 20 anos fazendo.

Adriano poderia ser seu sucessor no Corinthians. Não deu certo. Por quê?

Uma pena. A expectativa que todos nós tínhamos é que ele pudesse realmente ocupar aquele lugar que eu deixei. Mas ele teve muitos problemas de lesão, muitos problemas disciplinares. Infelizmente acabou dessa maneira a história dele com o Corinthians. Uma pena.

Ele te ligou ao sair?

Nos falamos. Ele ficou muito chateado da maneira como foi feito tudo. Acho que podia ter sido muito mais amigável essa ruptura. Não precisava de toda a exposição.

O Corinthians errou?

Acho que foi errada a maneira como aconteceu.

Qual é seu time do coração?

[risos] Eu acho que hoje e sempre vai ser Flamengo e Corinthians.

Seus filhos torcem para quem?

São corintianos.

Dos jogadores que são seus contemporâneos, qual você mais admira?

Pouco antes da minha época, o Zico. Foi sempre meu grande ídolo. Eu me inspirava nele. Na minha época, o Zidane para mim foi o melhor jogador com quem eu atuei. O Romário sem dúvida foi o melhor parceiro de ataque.

Neymar ou Messi?

O Messi ainda se encontra num nível superior a qualquer outro jogador no planeta. O Neymar sem dúvida é o nosso maior talento.

Será melhor que o Messi?

Eu acredito que sim. Ele tem um potencial enorme...

Jogando no Brasil?

Jogando no Brasil, nunca.

Por quê?

Porque acho que o futebol brasileiro, apesar de estar crescendo no cenário mundial, ainda não tem essa força de influenciar outros países com jogador aqui no Brasil.

Assista ao vídeo e leia a transcrição da entrevista
folha.com/no1063608

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