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Tostão

Nova palavra mágica

A violência é intensa e disseminada, dentro, fora do estádio e em toda a sociedade

A violência no futebol é a mesma que ocorre em toda a sociedade, em suas várias formas.

Dois anos atrás, depois de viver 11 anos mais próximo da natureza e de pequenos animais, voltei a morar na cidade. Estou impressionado com tanto barulho e desrespeito aos cidadãos e às leis. O ser humano involuiu. Infrações frequentes, presentes nas classes pobres e ricas, como jogar papel na rua, estacionar em fila dupla, dificultar a passagem de pedestres pelas calçadas e tantas outras, são o começo para graves infrações, violências e maracutaias.

Escuto, desde a infância, que o brasileiro é dócil, de paz. Ele é agressivo, como os outros. A sociedade, cada vez mais individualista, narcisista e consumista, favorece o crescimento da violência.

Em grupo, como nas torcidas organizadas, o ser humano sente-se mais poderoso, onipotente, corajoso e seguro. É também facilmente sugestionado. Faz o que nunca faria sozinho. Segue o grupo, como se houvesse uma única mente coletiva. Fica mais violento.

A violência está também dentro de campo. O jogo, no Brasil, costuma ser tumultuado, com muitas faltas, reclamações, simulações, ofensas e desrespeito aos companheiros, adversários, árbitros e auxiliares.

Anos atrás, estava pior.

A palavra que mais se ouvia, entre jogadores, técnicos e na imprensa, era pegada. Um time ganhava ou perdia por causa da pegada. Durante a partida, alguns técnicos gritavam: "Pega, pega". E explicavam que pegada era marcar de perto e ter garra. Na emoção da partida, os jogadores pegavam a canela do adversário.

Lembra da propaganda de uma cerveja, antes da Copa de 2010? O ambiente era de batalha.

Dunga, raivoso, fazia um discurso patriota. Se o Brasil tivesse vencido, ele seria condecorado como um herói de guerra.

Havia também violência no passado, mas era isolada, individual. O jogo não era tão tumultuado. Isso é uma das causas da queda de qualidade do futebol brasileiro.

As coisas começam a mudar, para melhor. Após a partida entre Santos e Barcelona, na final do Mundial de Clubes, a palavra pegada foi substituída por troca de passes e posse de bola. Só se fala nisso. Em qualquer pelada, há uma grande preocupação em medir a posse de bola.

Como no Brasil é oito ou 80, posse de bola se tornou a palavra mágica, solução para tudo, para a falta de talento e até para consolo. "O time perdeu, mas teve mais posse de bola." Melhor que dizer: "Perdeu, apesar da pegada".

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